Foto: Vagner de Alencar - Agência Mural
Foto: Vagner de Alencar – Agência Mural

Na madrugada de domingo, primeiro dia de dezembro, 9 pessoas saíram de casa buscando diversão e foram mortas, além de outras 12 feridas, em uma ação aterrorizante da Polícia Militar de São Paulo no baile funk Dz7, na favela Paraisópolis, Zona Sul da capital.

O baile

O Baile da Dz7 já acontece há quase 10 anos e reúne em média 5 mil pessoas nas ruas de Paraisópolis. A festa é apontada como a principal opção de diversão e expressa a cultura e a necessidade do jovem favelado de ter opções de lazer e entretenimento na comunidade, uma das maiores de São Paulo, com população estimada de 100 mil habitantes.

Versões opostas do caso

A versão da polícia, primeira relatada por toda a mídia durante o domingo, informou que agentes do 16º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) realizavam uma Operação Pancadão na comunidade, quando foram alvo de tiros disparados por dois homens em uma motocicleta. A dupla teria fugido em direção ao baile funk ainda atirando, o que provocou tumulto entre os frequentadores do evento, que tinha cerca de 5 mil pessoas.

João Doria (PSDB), governador do Estado de São Paulo, que já elogiou a política de segurança de “atirar para matar”, negou que as mortes tenham sido causadas pela Polícia Militar. De acordo com o tucano, os responsáveis foram “bandidos que invadiram a área onde estava acontecendo baile funk”. Ao encerrar sua declaração, Doria diz ainda que a política de segurança pública do Estado não vai mudar.

Moradores e frequentadores de Paraisópolis, que presenciaram toda a ação, relataram em vídeos e comentários nas redes sociais a violência policial vivida na ocasião.

Em um dos vídeos é possível ver um policial apontando uma arma longa e realizando disparos, enquanto um colega diz para as pessoas irem embora dali. No fim da gravação, uma mulher anda por uma calçada e, mesmo sem o menor gesto agressivo, é agredida com um golpe de cassetete no braço.

Entre muitas imagens, usuários do twitter compartilharam imagens de um policial branco aparentemente se divertindo ao agredir frequentadores do baile enquanto voltavam para suas casas.

Em entrevista coletiva, o tenente-coronel Emerson Massera, porta-voz da Polícia Militar de São Paulo, disse que todas as imagens estão incluídas no inquérito policial militar para que sejam analisadas. “Não temos certeza que tudo tenha acontecido nesta madrugada. Algumas imagens nos sugerem abuso, ação desproporcional. Evidentemente, o rigor vai responsabilizar quem cometeu algum excesso, algum abuso”, acrescentou Massera ainda na tarde do dia 1 de dezembro.


Como entender perfeitamente o caso

O Alma Preta, agência de jornalismo especializado em temática racial no Brasil, realizou desde o dia da ação desastrosa da PM uma cobertura sensível de como o caso repercutiu e o que essa tragédia significou em um editorial que apresenta com detalhes o tamanho da luta antirracista travada por ativistas e toda a população negra brasileira por direitos básicos, como o da vida e do lazer, constantemente negados pelo Estado.

Elisa Lucinda, a atriz e jornalista utilizou as redes sociais para manifestar seu posicionamento sobre o que houve em Paraisópolis. “Há também drogas sintéticas e não sintéticas rolando soltas nessas raves dos ricos. Só que a polícia não é doida de ir lá esculachar. É pra isso também o apartheid, para que se tenha licença territorial para matar”, declarou Lucinda, acrescentando ainda que todas as pessoas têm direito à diversão, como é o caso do funk nas favelas e periferias.

A Coalizão Negra por Direitos, organização que reúne 60 entidades do movimento negro, dizendo que “o que houve em Paraisópolis não foi acidente, mas genocídio”.

O grupo está organizando um ato público na quarta-feira, (4), a partir das 17h, em frente à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.

Outra convocação de manifestação também circula pelas redes sociais. A “Marcha contra o Genocídio da População Negra e Periférica” está programada para acontecer no dia 14 de dezembro, a partir das 17 horas na Rua Ernest Renan, em Paraisópolis.

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