Há cem anos nascia em Recife o educador e filósofo brasileiro, Paulo Reglus Neves Freire. “Reglus deveria se escrever Regulus, mas o sujeito do cartório errou”, comenta em uma entrevista de 1983.

Regulus é o nome dado à estrela mais brilhante da constelação de Leão. Antigamente, era conhecida por Cor Leonis (em latim, o coração do leão), pela posição que ocupa no corpo da figura celestial.

Mesmo que Paulo Reglus ou Regulus só tenha existido em documentos, o nome anuncia de antemão o que viria a ser um dos mais conhecidos teóricos da educação pelo mundo. Já estava escrito nas estrelas.

Paulo Freire, como ficou conhecido, é homenageado pelo mundo e foi nomeado o patrono da educação brasileira em 2012. É estudado nas Américas, África e Europa. 

Um dos livros fundamentais da sua trajetória, Pedagogia do Oprimido, escrito em 1968, quando o autor estava exilado no Chile durante a ditadura militar no Brasil, é o terceiro mais citado em trabalhos da área de humanidades, segundo levantamento do pesquisador Elliott Green, professor da Escola de Economia e Ciência Política de Londres, na Inglaterra.

A obra propõe uma prática pedagógica contrária à denominada “educação bancária”, àquela em que o professor considera o aluno um depositário de conhecimento, onde se insere letras e fórmulas até que ele esteja enriquecido com o conhecimento científico.

O patrono apresenta uma pedagogia dialógica, com interação entre os sujeitos. Essa interação permite o confronto de idéias, já que o aluno tem suas experiências de vida e não é apenas um receptáculo de conhecimento. Essa pedagogia permite que, além de ler as letras, o indivíduo possa ler o mundo. É libertadora, pois permite a consciência de classe, consciência da própria realidade.  Até mesmo se libertar da perspectiva que a própria pessoa tem de achar que é dominante.

Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor, disse Paulo Freire.

Celebrado e estudado pelo mundo, incomoda no Brasil exatamente por propor uma educação crítica. Foi completamente ignorado pelo Ministério da Educação e vem sendo atacado por gente que nem de educação entende. Foi necessário intervenção da Justiça Federal proibindo o governo federal de “praticar qualquer ato institucional atentatório à dignidade do professor Paulo Freire”.

Seguimos num momento de incertezas quanto aos rumos da educação e mesmo do próprio país.O coração de leão da educação brasileira, apesar dos ataques, encontra apoio em uma parcela da sociedade que luta contra às desigualdades e opressões. São professores e mestres que nesse vendaval de autoritarismo estudam e aplicam essa pedagogia democrática, crítica e dialógica, que possibilita a reflexão e ação nesses tempos sombrios. 

Imagem em Destaque: Divulgação.

Bastidores do FP

Receba mensalmente nossos conteúdos e atividades com a comunidade.

You May Also Like

Em que se baseia o último discurso de Bolsonaro no sertão pernambucano?

Bolsonaro relaciona o acesso à água com jogo de sorte e azar…

“Eu não quero desistir”, diz mãe de Ágatha Félix em reunião na Alerj

Esta é a segunda vez que a família de Agatha é atendida pela Comissão de Direitos Humanos da Alerj

8 Documentários para celebrar o Dia Internacional da Mulher

Celebrando o Dia Internacional da Mulher, selecionamos 8 obras audiovisuais produzidas por…

#justicaporbeto: Ato pacífico em Recife termina com detenção de ativista

Falas públicas, jograis e intervenções poéticas. Essa era a programação do Ato…