11 livros escritos por moradores de favelas do Rio sobre variados assuntos Comentários desativados em 11 livros escritos por moradores de favelas do Rio sobre variados assuntos 8392

A escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977) marcou a literatura brasileira com a publicação do livro “Quarto de Despejo”, em 1960, no qual relatou em seu diário o cotidiano miserável de uma mulher negra, pobre, mãe, escritora e favelada. De Carolina de Jesus também foram publicados Diário de Bitita (1982), Meu Estranho Diário (1996), Antologia Pessoal (1996) e Onde Estaes Felicidade (2014).

Publicar um livro no Brasil nunca foi uma tarefa fácil. A rigorosa seleção das editoras dificulta a publicação de obras que poderiam contribuir através de outras perspectivas como a de Carolina Maria de Jesus.

De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), a venda de livros no Brasil cresceu 14,8% no 9º período de 2017. Os números compartilhados no 9º Painel das Vendas de Livros no Brasil, em 2017, têm como base o resultado da Nielsen BookScan Brasil, que apura as vendas das principais livrarias e supermercados no país.

O Favela em Pauta mapeou moradores de favelas que possuem livros publicados sobre variados temas. Abaixo, você encontra autores de diferentes favelas, idades e com muitas histórias para contar:

1
EFETIVO VARIÁVEL (Alfaguara, 2017)

Jessé Andarilho, cria de Antares

Em “Efetivo Variável”, os dilemas do personagem Vinícius traduzem de forma brilhante as limitações de uma realidade social desigual e opressora. Vinicius tinha certeza de que seria dispensado do Exército. Como refratário, porém, não teve direito de escolha e acabou na companhia que fazia o trabalho mais pesado do batalhão. No começo, fez corpo mole, porém logo descobriu que sua atitude prejudicava os companheiros. Decidiu então dançar conforme a música. Lavar, correr, esfregar, pagar flexões… a rotina militar era dura, mas lhe trouxe amigos e um propósito. Só havia uma coisa com a qual ele não se acostumava: as humilhações do sargento Vieira. Para complicar, começa uma relação secreta com a filha do sargento. Com uma narrativa segura, Jessé Andarilho cria conflitos e reviravoltas que se escondem sob uma aparente normalidade e dá vida a um garoto comum, cheio de aspirações, em busca de si mesmo.

2
EU SEMPRE FUI AZUL (Skull, 2017)
Lorhan Rocha, cria do Morro da Formiga

Muitos encaram a depressão de maneiras diferentes, alguns se escondem da sociedade mantendo-se em um quarto escuro. Paulo se inclui nessa classe de pessoas, mas diferente delas, seu quarto não é escuro, ele é Azul, assim como seus sentimentos. Paulo tem 17 anos e após perder sua mãe e se distanciar de seu pai se encontra vivendo com seus avôs, a vida não é mais fácil, mas também não tão difícil como imaginou que seria, mesmo assim se aventurou no famoso, Baleia Azul. Prestes a cometer a sua última tarefa imposta por seu Curador, bem ao alto do Cristo Redentor, Paulo é interrompido por Alice Silva. Seria Alice um milagre em sua vida? Seu surgimento foi pura coincidência ou totalmente intencional?

3
MINHA CIDADANIA VIOLADA ATÉ QUANDO? (Scortecci, 2016)
Bruno Black, cria do Fumacê

Este livro foi idealizado a partir dos problemas na sociedade observados pelo autor, principalmente em sua própria comunidade. Apesar disso, acaba por ser um retrato de toda a sociedade brasileira. Assim, o livro tem a intenção de falar a verdade e também estimular a procura de soluções. Enquanto a favela onde morava vivia momentos de intensos confrontos armados, Bruno fez de suas poesias o seu desabafo, seu respirar, seu pé e seu maior presente pro mundo.

4
AMOR E TRAIÇÃO NO CALABAR (Azougue, 2012)
Joilson Pinheiro, morador da Rocinha

A saga gira em torno de dois personagens, Luiz Silva e Carla Almeida, que junto a seu Paulo, dona Catarina, Pedro Almeida, Sérgio das Flores, Mestre Canário, Marta Fagundes e o espanhol Julio Martinez dão corpo a trama que se passa na comunidade de Calabar, em Salvador. Luiz é um jovem engajado que vem de Cruz da Almas, e muda o rumo da comunidade devido a sua inquietação e consciência politica e social. A inveja e a ambição são peças fundamentais desta história, desencadeando mistérios, traições e assassinatos.

5
A HISTÓRIA QUE EU CONTO (Tramas Urbanas, 2003)
Binho Cultura, cria da Vila Aliança

O livro fala sobre a atitude de três moradores da Vila Aliança ao criar o Centro Cultural A história que eu conto provocam transformação no território utilizando a Cultura para o Desenvolvimento. A partir de seus planejamentos e ações atraem investimentos governamentais e privados que ajudam a tirar vila Aliança dos piores IDHs da Cidade

6
O LIVREIRO DO ALEMÃO (Panda Books, 2011)
Otávio Cesar Junior, cria do Complexo do Alemão

Nesta obra, o autor revela como um livro, que ele encontrou no lixo quando tinha 8 anos de idade, mudou sua vida. Morador do Complexo do Alemão, Rio de Janeiro, Otávio criou em sua comunidade o projeto “Ler é 10” – Favela, cujo objetivo é ensinar às crianças o prazer da leitura. Apesar da violência, do tráfico de drogas e da carência de recursos dos moradores das favelas, a história de Otávio tenta ser a prova que o livro tem um poder de transformação na vida das crianças e jovens.

7
ROCINHA EM OFF (Desfecho, 2015)
Carlos Costa, cria da Rocinha

O livro reúne histórias que a mídia não soube, não pôde ou não quis contar através de uma série de “causos” que o jornalista Carlos Costa relembrou saudosamente. Depois de 30 anos atuando nos movimentos comunitários da Rocinha, Carlos Costa formado jornalista em 2007, celebra o encerramento de seu ciclo de líder comunitário e deixa estórias e causos diversos como legados para a História da Rocinha.

8
PALAVRAS DO MUNDO (2017)
Rennan Leta, cria da Mata Machado, no Alto da Boa Vista

O livro é um projeto que iniciou-se como uma página no Facebook com o intuito de traduzir o mundo em palavras. O primeiro livro traz dois capítulos: palavras da Natureza e da Humanidade. No primeiro, o autor apresenta poesias sobre a natureza, seus elementos e fenômenos. Já no segundo, existe uma visão poética sobre pontos importantes da humanidade: sentimentos, gestos, problemas e soluções. Esse é apenas o primeiro passo e a primeira tradução do mundo em palavras.

9
A VOZ DO ALEMÃO (NVersos, 2013)
Rene Silva, cria do Morro do Adeus, no Complexo do Alemão

O jovem Rene Silva – criador do jornal Voz da Comunidade – relata o cotidiano dos moradores do Complexo de favelas do Morro do Alemão, além de ser um espaço para que tantas vozes, antes abafadas, fossem mais ouvidas e atendidas. Juntamente com a jornalista Sabrina Abreu, transformou em livro a sua trajetória, bem como a de muitos outros jovens moradores do local. O leitor é convidado a conhecer o morro, minuciosamente, com a brilhante trajetória de Rene e A Voz do Alemão.

10
O MENINO DO MORRO VIROU DEUS (Desfecho, 2015)
Bruno Rico, cria do Cajueiro

Baseado na letra O menino do morro, do grupo de rap Facção Central, este livro narra a trajetória de um mito invisível do narcotráfico brasileiro. Cansado de passar humilhações e dificuldades na infância, Julinho Faixa entra com tudo no mundo do crime e se transforma em um grande talento do tráfico de drogas de sua região. Em poucos anos, Julinho Faixa já era um dos maiores narcotraficantes do Brasil, e o mais curioso: ninguém o conhecia como tal, pois ele vivia sob um esquema que o blindava e o fazia andar imune pelas ruas. Mas isso não foi fácil. Adquirir poder, influência política e a onipotência de um Deus, não foi tarefa simples para o menino mirrado, que na infância era tratado como um nada. Todas essas dificuldades moldaram um homem invisível e extremamente poderoso, que manda e desmanda neste país.

11
ENRAIZADOS: OS HÍBRIDOS GLOBAIS (Aeroplano, 2011)
Dudu de Morro Agudo

Este livro conta a história do movimento enraizados. Essa história é a demonstração da força que o hip-hop tem no Brasil. E essa força é capaz de abrir possibilidades infinitas para aqueles que se enredam na sua trama. Dudu de Morro Agudo narra a grande aventura dele e seu parceiro, Dumontt – para operar o milagre, nas palavras dele, de criar esse movimento, que hoje está em quase todo o Brasil e em vários países do mundo. A narrativa tem a dicção própria de seu autor: consistente, contundente e bem-humorada. Cada trecho nos instiga a continuar a leitura, porque é leve, ágil e atiça a curiosidade.

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