Desde o dia 03 de novembro, treze municípios do Amapá estão sofrendo com apagão no Estado. 

Você já imaginou como seria a sua rotina sem a certeza do fornecimento elétrico por mais de 240 horas? Essa é a realidade vivenciada pelos moradores do Amapá que, após um incêndio causado na concessionária Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE) no dia 3 de novembro, convivem entre o apagão total e a distribuição de energia entre os bairros do Estado.

Principal responsável pelo funcionamento adequado da rede elétrica em Amapá, a LMTE alegou que um raio atingiu um dos transformadores da subestação – versão que foi descartada pelo laudo inicial da Polícia Civil. Para tentar a contornar a situação estabelecida nos últimos dias, a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) estruturou um sistema que possibilitasse o racionamento de energia a cada 6 horas. Porém, o método não foi o suficiente para suprir todas as residências do Estado e o cronograma passou por alterações no dia, 12, para fornecer energia a cada 3 horas. 

De acordo com Tarsis Costa, a situação no Amapá pode ser definida como normalização da violência a partir dos poderes públicos. “O governo daqui te tira a energia, deixa teu alimento apodrecer, não vai te repor, mas vai te cobrar a fatura da conta de luz. E se você protestar, pode ficar sem um olho.Você entende isso. Você sabe que normalizamos a violência. Temos que parar”, desabafa.

A tag #SOSAmapá tem sido cada vez mais presente no Twitter na tentativa de chamar cada vez mais atenção ao que vem ocorrendo na região. Ainda nessa semana, a tag refletiu uma outra realidade da região: os valores pagos para as empresas privadas de energia. 

Valores das contas de luz chamam atenção na internet 

A prestação de um serviço essencial que poderia ser público e é extremamente necessário para questões de sobrevivência, não tem sido efetuado de maneira ideal no Amapá. Antes mesmo do apagão, a região já sofria diretamente com o abuso de valores em suas contas de luz. Hoje, completando dez dias sem energia elétrica, os amapaenses carregam uma balança que se divide entre o valor exacerbado de energia – mesmo fora da taxa vermelha – e a ausência de apoio governamental em um momento crítico, onde alimentos estão sendo jogados fora, vacinas sendo desperdiçadas por não poderem ficar fora de ambientes refrigerados e a sua população tendo dificuldades até para dormir. 

galeria de imagem: Imagem 1: “Parece que a gente vive em estado de alerta. Esperando a energia ir embora.” afirma Vanessa Helena, do bairro Renascer., imagem 2: histórico da conta de luz do Igor Reale, imagem 3: falta de luz na casa do Felipe

Em seu twitter, Igor Reale, morador de Macapá, compartilhou que costuma pagar, no mínimo, R$900 de conta de luz em uma casa com três pessoas e questionou seus seguidores amapaenses qual era em média o valor que cada um deles pagava. As respostas ao tweet causou um certo choque às pessoas que não possuem qualquer contato com a região, mas o arquiteto Felipe Welister Cruz Brasil, morador do bairro do Trem, comenta que “as tarifas altas de energia é uma realidade pra quem mora no Norte, em especial pro amapaense.”

“O nosso grande questionamento é que rios foram desviados ou destruídos pela construção de hidrelétricas e não temos nada dessa energia aqui.” afirma Igor, que resolveu questionar sobre os valores das contas dos amapaense após ver os valores que moradores do sudestes pagavam em suas contas.

O Favela em Pauta tentou entrar em contato com o Governo do Amapá para averiguar sobre o uso das hidrelétricas, mas, até o momento em que essa matéria foi publicada, não obteve retorno. 

“Imagina ficar sem energia nenhuma desde terça feira até sábado, bebendo água quente, dormindo no calor, sendo massacrado pelos pernilongos e ainda tem lugares na cidade que a energia não deu as caras. Prefeitura e governo totalmente omissos com a população”, afirma Felipe

Nos bairros mais periféricos, onde o racionamento de energia foi ainda mais ausente, a presença de projetos sociais e trabalhos colaborativos tornam-se essenciais para a sobrevivência dos moradores locais.

embedar: https://twitter.com/utopianegraAP/status/1326996453638725640

Eleições no Macapá foram adiadas por causa da situação crítica da região

Sem ter o acesso à energia elétrica normalizado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acatou o pedido do Amapá e permitiu que as eleições de Macapá fossem realizadas em outra data, desde que aconteça até o dia 27 de dezembro, último domingo do ano.

Neste domingo, 15, ocorre o primeiro turno das eleições para prefeito e vereador em todo o país. No entanto, com o cenário regional, onde Macapá se encontra em estado de calamidade pública,  o Tribunal Regional Eleitoral do Amapá (TRE-AP) solicitou ao  TSE que as eleições na capital do estado (Macapá) fossem adiadas até que a distribuição de energia fosse regularizada. O pedido foi realizado no dia 11 e no dia seguinte o TSE aceitou a solicitação, mas Macapá ainda não possui as novas datas eleitorais estabelecidas. 

*Imagem destacada: Tarsis Costa

Matéria realizada pelos repórteres do Favela em Pauta: Ariel Freitas e Dandara Franco

Bastidores do FP

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