De dezesseis municípios, treze estão sem luz desde o dia  03 de novembro, quando um incêndio atingiu uma subestação da Isolux após uma tempestade de raios

“Parece um cenário apocalíptico. De filme mesmo”, define Kelven Cardoso, de 24 anos, morador do bairro Pacoval, em Amapá, que encara a falta de fornecimento de energia elétrica no Estado há quatro dias, consequências de um incêndio na subestação de energia em Macapá. Convivendo com a dificuldade de comunicar-se com os amigos e familiares pelo sinal enfraquecido da internet, o estudante de engenharia da computação revela que a população enfrenta um roteiro de filme de terror, onde não há luz, segurança e muito menos uma previsão de retorno ao normal. 

De acordo com Kelven, aos poucos, a sensação de desespero reflete nos rostos e ações dos moradores da região. Nos últimos dias, ele registrou brigas e filas extensas por mercadorias essenciais para preservar alimentos, como o gelo. “Os alimentos são o que mais estão estragando. Em casa conseguimos gelo para colocar. Só não sei até quando vai aguentar…Mas os comércios aqui de perto e frigobares estão com o cheiro muito ruim porque tudo já estragou”, comenta. 

Entenda a possível causa do apagão e as reações do Governo Estadual

No dia 03 de novembro um incêndio atingiu a subestação de energia elétrica em uma localidade de Macapá após uma forte tempestade de raios, moradores alegam que esse possivelmente teria sido a causa do incêndio. De acordo com a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), “a subestação não pertence à CEA. A subestação é da empresa Isolux, que presta serviço à União na conexão da rede local com o Sistema Interligado Nacional.” O Favela em Pauta entrou em contato com a empresa Isolux e com o Governo do Amapá, questionando se há alguma resposta da empresa perante ao ocorrido ou se há algum alinhamento para estruturar apoio à população local, mas não fomos respondidos até o momento em que esta matéria foi publicada.

Apesar das coletivas organizadas pelo governo local, em que divulgaram os planejamentos de solução para o que vem ocorrendo, os moradores dos locais atingidos não reconhecem um auxílio direto do Governo perante à calamidade. 

“Caos. Um completo caos” afirma Gilberto Santiago, morador de Macapá que, através do Twitter, vem atualizando a situação da região em que mora. “Torço para que os políticos se unam e consigam juntar mecanismos suficientes para resolver essa situação. As águas minerais estão em falta, pois foram compradas em massa para utilização em casa. A verdade é que parece o apocalipse.” Gilberto ainda nos contou que muito centros comerciais não estão aceitando cartão pois não possuem acesso à internet, mas, ao mesmo tempo, os bancos não possuem energia para que as pessoas possam sacar dinheiro. 

Com quase 90% do estado sem energia, o governador de Amapá,  Waldez Góes (PDT), decretou pela manhã desta sexta-feira, 06, que o Amapá entrou em estado de emergência, já a prefeitura de Macapá, capital do estado, assinou o decreto na noite de quinta-feira, após completar 47 horas sem energia elétrica. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) protocolou uma ação popular na Justiça Federal do Amapá pedindo o acesso a itens básicos à população, como água e medicamentos, além de uma investigação em relação ao apagão. Na quinta-feira, 05/11, o Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, anunciou em uma coletiva que uma investigação já foi aberta para apurar as causas e as consequências da situação atual em que o estado se encontra. 

A tempestade de raios pode ter sido a causa do incêndio que gerou o apagão | Imagem: Reprodução

Ausência de energia em meio ao cenário pandêmico da covid-19

Com sinais de uma tragédia ainda maior pelo cenário de coronavírus no país, a situação atual causa pânico nos moradores que precisam encarar as grandes aglomerações por alimento e gelo, o calor excessivo e à falta de água potável que, em muitos pontos do Estado, ainda não retornou. Segundo os dados do Ministério de Saúde, em Amapá, o total de novos casos no período de 18 a 31 de outubro (três dias antes do início da falta de fornecimento de energia) era de 2.025. 

Uma das preocupações constantes da região é o possível aumento de novos casos.De acordo com Guilherme Pena, de 23 anos e morador do bairro Buritizal, esse é o pior momento para um apagão na região. “Com certeza, esse é o pior momento para um apagão. O ano de 2020 realmente tá horrível. A gente estava no início de uma segunda onda de contaminação. Nas duas últimas semanas, os números devem ter triplicado. Inclusive, estamos sob um decreto do governo, limitando horário de estabelecimentos e tudo mais, mas, com esse apagão, a situação só piorou. Muita gente na rua sem máscara”, explica.

Guilherme ainda ressalta que o sentimento que atordoa a população é o de revolta e de descaso do dos poderes políticos.  “Acho que se fosse em outro Estado, fora da região Norte, as coisas seriam diferentes. Não parece que meu Estado faça diferença alguma”, desabafa.

O momento de calamidade na região tem sido um tópico frequente nas publicações no Twitter. Como forma de protesto ou de compartilhamento da situação, usuários incentivaram o uso de Hashtags com o nome do Estado na plataforma. Nas últimas 24 horas, as principais utilizadas são #AmapaPedeSocorro, #ApagaoNoAmapa e #SOSAmapa. Confira alguns tweets destacados na rede social:

*Imagem destacada: Jorge Júnior/Rede Amazônica

*O texto é de autoria dos repórteres Ariel Freitas e Dandara Franco

Bastidores do FP

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