*Com colaboração de Kauana Portugal

O Brasil e o mundo acompanham, estatelados, vídeos em que moradores narram os momentos de horror vividos durante os deslizamentos de barreiras em Pernambuco, região Nordeste do país. As cenas de desespero ganharam os noticiários desde a última quarta-feira de maio (25), quando o fenômeno Ondas de Leste chegou ao estado, derramando chuvas intensas por toda a Região Metropolitana do Recife e também nas Zonas da Mata pernambucana. 

No início desta sexta-feira (03), 128 mortes foram confirmadas ao total, entre adultos e crianças. Duas pessoas seguem desaparecidas e 9.302 estão desabrigadas. No total, 31 municípios decretaram situação de emergência. Tanto a prefeitura quanto o governo do estado, ambas as gestões encabeçadas pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), fazem coro à justificativa de que o volume excessivo de chuva seria o único responsável pela tragédia. Seguindo a mesma toada, representantes do Corpo de Bombeiros e Defesa Civil do Recife têm ressaltado o perigo vivenciado por famílias que permanecem em áreas consideradas “de risco”.

A capital pernambucana, no entanto, não parece interessada em apontar alternativas para os mais pobres, além dos abrigos emergenciais montados em escolas públicas da cidade. Entre aqueles que perderam entes queridos ou o pedaço de chão que lhes custou uma vida inteira de trabalho, paira no ar o sentimento de incerteza sobre o futuro. E isso ocorre, entre outros motivos, porque em quase dois anos de gestão o prefeito João Campos não entregou nenhuma das cinco obras de moradias populares prometidas por seus antecessores. Tampouco ocupou-se de novos projetos relacionados ao assunto.

O tema também não parece estar entre as maiores preocupações de Campos, que no início de maio viu queimar as palafitas do Pina, localizadas na Zona Sul do Recife. Para as 180 famílias afetadas pelo incêndio, restou o pagamento de uma parcela única de R$ 1.500 e um auxílio moradia mensal no valor de R$ 200. Na capital onde o valor do aluguel só perde para São Paulo, a quantia expõe a falta de prioridade dos governos do PSB quando o assunto é moradia digna. 

No último estudo realizado pela prefeitura, por exemplo, Recife já acumulava o alarmante déficit habitacional de 71 mil moradias. Além disso, apenas 30% da população tem acesso a esgoto, segundo o instituto Trata Brasil. Recife e Jaboatão dos Guararapes, ambas atingidas pela tragédia mais recente, figuram entre as 20 piores cidades no ranking. Não é difícil imaginar como vivem os moradores das periferias no estado. Sobre isso, inclusive, o IBGE já indicava em 2018 o número de 206.761 habitantes vivendo em áreas com risco de enchentes e deslizamentos no Recife. O equivalente a 13,4% da população.

Ou seja, ocupados desde a década de 40 em razão da gentrificação nos centros urbanos, os morros não são uma novidade no Recife. Mesmo assim, as evidências não bastaram para que ações de monitoramento e prevenção fossem realizadas. Mesmo com os alertas feitos por agências meteorológicas ainda na semana anterior, antes das chuvas começarem. A quantia  gasta em 2022 com ações de prevenção a acidentes também chama atenção. O investimento foi de pouco menos de R$ 150 milhões. 

Para se ter ideia, só em 2021 a mesma prefeitura gastou R$ 42 milhões só em publicidade. Em 2019, Geraldo Júlio, também do PSB, investiu R$ 50 milhões no mesmo segmento. Como essa quantia poderia ter modificado a realidade de famílias que vivem à beira da morte? 

Sim, o Recife é a capital brasileira mais vulnerável às mudanças climáticas segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Não, ninguém escolheu morar em locais inseguros e correr o risco de morrer a cada época de fortes chuvas na cidade. É a necessidade.

No sábado, municípios amanheceram debaixo d’água e foi a solidariedade entre os cidadãos comuns que diminuiu um pouco dos fortes impactos da chuva. Enquanto as prefeituras, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros demoravam nos socorros, os vizinhos foram “se virando” para garantir o mínimo de perdas possíveis – muitas vezes arriscando a própria vida. Coberturas jornalísticas chegaram em vários locais antes mesmo do poder público. Coletivos, organizações da sociedade civil e iniciativas individuais foram surgindo a cada minuto para tentar colher o máximo de ajuda possível.

Hoje, há mais de uma semana desde o início de toda essa agonia, vários locais e famílias têm conseguido restituir o mínimo do mínimo da dignidade. Entretanto, estamos falando de pessoas que perderam casas inteiras ou parte significativa delas. Eletrodomésticos, roupas, colchões, documentos, móveis.

O mês mais chuvoso do ano apenas começou, as doações têm diminuído e o medo volta a tomar conta. é importante manter a solidariedade em alta, ao mesmo tempo em que demandamos que o poder público cumpra sua função de cuidar das pessoas. 

Acompanhe e fortaleça algumas iniciativas de apoio aos desalojados e desabrigados em Pernambuco.

Coalizão Negra por Direitos
A campanha Tem Gente Com Fome (temgentecomfome.com.br), foi reativada emergencialmente para ajudar as vítimas em Pernambuco. A Articulação Negra de Pernambuco gere as entregas dos alimentos. 

PIX (CNPJ): 11.140.583/0001-72 

Depósito em conta (Instituto de Referência Negra Peregum | CNPJ: 11.140.583/0001-72 | Banco do Brasil | Agência: 1202-5 | Conta Corrente: 73.963-4)

Coletiva Periféricas
A organização atua no município de Jaboatão dos Guararapes, um dos mais afetados. As doações podem ser feitas via PIX ( 13352057486 para Bruna Alves de Lima/Nubank; ou 12201109494 para Tatiana Leite da Silva. O endereço para entrega de doações é R. Quarenta e nove, 40, Zumbi do Pacheco

Ibura Mais Cultura
Organização que atua dando suporte às comunidades do bairro do Ibura, um dos maiores do Recife e também um dos mais afetados da cidade. 

 PIX (lidialins04@gmail.com e seabraprod@gmail.com)

Fruto de Favela
Recolhe roupas infantis, itens de higiene, colchões, cobertores, água e alimentos para os afetados da cidade de Paulista, Região Metropolitana do Recife. PIX (frutodefavela@gmail.com) e entregas (Av. Colibri, quadra 61, bloco 7, apto 103, Maranguape 1, Paulista)

Favelas Camarás e Ocupe a Praça Camará
Organizações de Camaragibe, cidade da região metropolitana muito atingida.

PIX (81983327584, celular) e ponto de arrecadação (R. das Açucenas, 8)

Caranguejo Tabaiares Resiste
Organização formada por moradores da comunidade de Caranguejo Tabaiares, na zona oeste do Recife. PIX (CPF: 02161081446 de Ilka Martins de Oliveira). O endereço para entrega de doações de lençóis, colchões, materiais de higiene, roupas e alimentos é Av. Vila Canal, 135, Ilha do Retiro

Rede Tumulto

Organização agora foca em conseguir colchões para entregar as famílias desabrigadas e desalojadas.

pix: redetumulto@gmail.com

ONG Cores do Amanhã

Ong demonstra como a arte transforma a vida das pessoas, a sede fica localizada no bairro do Totó, no Recife.

pix:13.449.687.0001-99 (CNPJ)

Fórum de Mulheres de Pernambuco

Organização feminista que atua por todo o estado a partir da atuação individual e de grupos que constróem o movimento.

PIX: fmpefeminista@gmail.com

Coletivo Mulheres Periféricas e LGBTQIA+ 

Organização atuante em Olinda.

PIX: 81986423513 (celular – Elisangela Maranhão)

Central Única das Favelas (Cufa)
A Cufa de Pernambuco recebe alimentos não perecíveis, produtos de higiene pessoal, agasalhos e roupas de cama (Avenida Norte, 5.300, Casa Amarela). As doações também podem ser feitas via PIX (CNPJ 35.433.107/0001-08) e depósito em conta (NU Pagamentos: 260 | Agência: 0001 | Conta corrente: 56883499-8)

Central da Arrecadação
Empresas da iniciativa privada, associações, ONGs e igrejas que queiram doar valores maiores podem entrar em contato com a Central de Arrecadação pelos números: (81) 98791-2705 e (81) 3355-9412 ou enviar e-mail para doacaorecifesolidario@gmail.com

Foto de destaque: Rafael Vieira

Bastidores do FP

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