Parede de casa perfurada por tiros no Complexo do Alemão. Bento Fábio / Coletivo Papo Reto
Foto: Bento Fábio / Coletivo Papo Reto

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por maioria nesta segunda-feira (17) uma medida cautelar para proibir o uso de helicóptero em operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro durante o período que durar a pandemia do covid-19. Na decisão também afirma que o uso pode ser feito em hipóteses excepcionais, que devem ser devidamente justificadas por escrito pela autoridade competente com a comunicação imediata ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. 

A decisão que é resultado de um histórico da atuação extremamente ruim das forças policiais foi comemorada em perfis nas redes sociais de movimentos que trabalham na denúncia de ações policiais abusivas nas favelas do Rio. Em paralelo a comemoração, também houve críticas de uma parcela da sociedade que parece não estar atenta às problemáticas dessas ações ou sequer nos números de mortes por balas perdidas que apontam uma política genocida para além da falta de preparo desses policiais. 

O Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI), da Universidade Federal Fluminense (UFF), realizou uma pesquisa neste ano com base em dados oficiais de ocorrências criminais produzidos pelo Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ), analisou os impactos da decisão nos 31 dias após ela ser feita e comparou com números de 2007 no mesmo período. “Com relação aos feridos, houve, no mesmo período, uma redução de 49,0% em relação à média de mortes no período entre 2007 e 2019 e redução de 49,6% em relação à estimativa para 2020”, afirma a pesquisa 

Vale lembrar que o STF suspendeu as operações policiais nas favelas do estado durante a pandemia, o que resultou na redução de 70% no número de mortes e 50% o número de feridos em decorrência de ações e ou tiroteios entre os dias 5 de junho e 5 de julho.

Foto: Bento Fábio / Coletivo Papo Reto

No cotidiano das favelas as expectativas sobre a proibição ainda é um fato a se refletir, afinal, foram esses corpos que tradicionalmente foram lidos como alvo de uma polícia nada pacífica e que precisaram aprender a sobreviver nas favelas que vivem. Para entender melhor sobre como a notícia da decisão foi recebida por moradores, o Favela em Pauta conversou com Luan Eric, jovem de 20 anos, estudante de programação e morador do Parque União, no Complexo da Maré, favela da Zona Norte da capital fluminense.

“É uma melhora pra quem mora na favela, porque eles [policiais] não querem saber quem está na rua. Só querem matar independente de quem seja. Se eles perceberem qualquer coisa se movimentando, na leitura deles já é um criminoso e se eles estiverem no helicóptero, vão dar tiros” diz o estudante. 

Mesmo com a decisão, é importante ressaltar que historicamente essas operações policiais construíram barreiras entre os moradores das favelas e essas forças policiais. Para quem convive com a experiência de já ter presenciado abordagens violentas, a realidade ainda é de muita tensão.

“Não é tirando um helicóptero que vai fazer a gente ficar mais seguro em relação à forma agressiva que a polícia age. O fato da gente morar na comunidade e ser negro já diz muito sobre isso. Eu já vi amigo meu sendo perseguido pela polícia enquanto voltava pra casa e uma dessas vezes meu amigo ficou com tanto medo deles que o coração acelerou. Os policiais notaram  que ele estava nervoso quando o abordaram e esculacharam ele. Mas, ele só estava com medo.” desabafa Luan.

Polícia Militar do Rio descumpre decisão

Foto: Bento Fabio
Foto: Bento Fabio / Coletivo Papo Reto

Nesta quarta-feira (19), mesmo após as decisões do STF em proibir operações policiais e o uso de helicóptero em favelas e periferias, a PMERJ realizou operação com grande mobilização de policiais na Fazendinha (Complexo do Alemão). De acordo com alerta realizado no twitter por Raull Santiago, uma moradora foi baleada na perna durante a ação na localidade.

Além da moradora ferida, surgiram relatos do terror polical e também de prejuízos materiais como relatou uma moradora ao jornal Voz das Comunidades através de imagens.

*Imagem destacada por Bento Fabio / Coletivo Papo Reto

Bastidores do FP

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