Os desafios enfrentados por deficientes visuais que ainda segregam a experiência no mundo virtual.

A possibilidade do acesso a internet nos últimos anos se tornou parte da rotina de milhares de pessoas no mundo, seja no âmbito profissional ou doméstico. A criação de novas formas de se relacionar, como por exemplo, as redes sociais foi um facilitador para que encontros ocorressem a qualquer hora do dia, em qualquer lugar e por qualquer pessoa. Mas, nem todo mundo pode ter uma boa experiência de navegação, afinal, cada pessoa tem as suas respectivas demandas.   .

No trabalho da democratização da internet, hoje é possível ver que diversas empresas e plataformas se esforçam para construir um lugar menos desigual, ao menos virtualmente, para seus usuários. Porém, a questão pode ser ainda mais aprofundada pelos usuários das redes sociais, como por exemplo o Twitter. 

É comum se deparar com usuários que acrescentam emojis em seus perfis além de seus respectivos nomes. O objetivo pode ser de deixar o ambiente mais atrativo e personalizado, mas que tem como consequência uma experiência não tão boa para quem precisa de um acesso dinâmico e menos complexo, conforme alertado em uma publicação pelo jornalista Gustavo Torniero, 25 anos.  

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a cegueira afeta 39 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, segundo os últimos levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 23,9% da população brasileira, cerca de 45,6 milhões de pessoas, se declararam ter algum tipo de deficiência, sendo 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual. O Favela em Pauta conversou com o jornalista que é deficiente visual e usuário do Twitter, que falou sobre a sua experiência na plataforma.

“Uma das principais barreiras, hoje, para pessoas com deficiência na internet é a falta de conteúdo acessível. Isso vai desde audiodescrição até libras e legendas. No meu caso, enquanto pessoa cega, o que mais me impacta são imagens sem descrição. As redes sociais são muito imagéticas e se os usuários não se mobilizarem para fazer uma descrição do seu conteúdo, estarão excluindo milhões de pessoas com deficiência visual. Marcas e empresas, por outro lado, precisam se engajar nessa causa, buscando capacitação e orientação sobre o assunto.” relata Gustavo Torniero.

Ainda sobre as  plataformas estarem atentas em possibilitar um melhor o desempenho deficientes em suas respectivas redes, o jornalista se mostrou confiante, mas atento às demandas que ainda precisam ser atendidas para um ambiente menos desigual no mundo virtual.

“Ainda há um caminho longo a ser trilhado, mas existem iniciativas importantes das plataformas, como criação de um time específico para pensar no desenvolvimento de produtos acessíveis, bem como melhorias de usabilidade em funcionalidades antes inacessíveis, como disponibilização de legendas automáticas, por exemplo. Temos que comemorar essas iniciativas e fazer nosso papel reivindicatório para que não sejam iniciativas isoladas e com pouco efeito prático. Acessibilidade é um exercício diário, ainda mais quando falamos de internet. Uma nova funcionalidade,uma pequena mudança pode deixar uma plataforma ou um site inacessível sem os cuidados necessários.” pontua. 

Quanto a sua sugestão para o Guga Chacra no Twitter, o colega de profissão atendeu o pedido e ajudou a propagar a informação.

“Sobre o Guga, eu não pedi para que ele retirasse todas, apenas que reduzisse. Não tem problema usar emojis. Como o meu vídeo mostra, eles até são lidos pelos leitores de tela. É um recurso de comunicação importante e que ajuda as pessoas a se expressarem e a serem representadas da sua maneira. A dica, ali, foi para reduzir pelo menos no nome do perfil. Muitos emojis diferentes em sequência podem causar um ruído na comunicação. Certamente não para todas as pessoas cegas. Mas com a minha experiência em produção de conteúdo acessível, é algo que eu faço questão de sugerir.

O Favela em Pauta trabalha com o compromisso e incentivo para que consigamos revisar nossa postura nas redes, que por mais que possam parecer pequenas, podem ser a garantia de uma melhora de uma experiência nas plataformas, entendendo a luta para tornar espaços, virtuais ou não, mais democráticos. Pega a fita e vamos propagar essa informação. 

Bastidores do FP

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