“A arte e a educação andam juntas na minha vida, pois eu não seria a Francy Júnior dos movimentos sociais e historiadora se eu não fosse atriz”, diz a militante do movimento feminista e negro 

Nascida em Manaus, capital do estado do Amazonas, a atriz e historiadora Francymar Júnior, ou Francy Júnior como é mais conhecida, usa a arte e a educação para enfrentar o machismo e o racismo na cidade. 

Moradora da comunidade Monte Pascoal, periferia da zona Norte de Manaus, Francy conta que a sua luta iniciou aos sete anos de idade ainda na escola, onde se entendeu como mulher, preta e macumbeira. “Nessa época eu já tinha que me defender. Ali eu aprendi a resistir, lutar contra a indiferença, contra o preconceito e contra o racismo dos colegas da escola. Eu tinha que me defender, defender as minhas irmãs e, a partir daí, eu não parei. Fui crescendo e debatendo cada vez mais”.

Aos 14 anos, Francy começou a fazer aulas de teatro e se apaixonou pela arte. Foi neste momento da vida que ela conheceu Nestor Nascimento, fundador do Movimento Alma Negra (Moan) e um principais líderes do movimento negro do Amazonas, e uma das muitas personalidades que, segundo ela, lhe ajudou a entender as facetas do racismo e de como ela poderia atuar no combate ao preconceito.  

Com isso, Francy decidiu cursar história e unir ao teatro e à educação para que, tanto os seus colegas de palco, quanto os seus alunos e alunas da escola, lhe ouçam e compreendam de forma didática o que é o racismo no Brasil e no Amazonas. A iniciativa de dar aula de história através do teatro também foi pensada para que os alunos não decorem a disciplina, mas sim façam uma reflexão sobre ela e como ela pode ser contada através da perspectiva do povo preto. 

“Eu decidi ser historiadora, pois não me vejo nos livros e não vejo a história da população preta do Norte e de Manaus. A gente não reconhece nesses livros a história de Dandara, Lélia Gonzales, Maria Conceição de Jesus e de tantas outras mulheres pretas que viveram e vivem nesse país. Elas foram invisibilizadas e eu tento mudar isso na sala de aula”.

Francy Júnior

“É preciso ir até à câmara de vereadores e se ver ali”

Nas eleições municipais de 2020, Francy se candidatou pela segunda vez ao cargo de vereadora de Manaus. Com apoio dos terreiros, movimento de mulheres, igrejas católicas, população LGBTQIA+, professores e professoras, a candidatura da ativista ganhou força, mas não se elegeu. Apesar disso, ela afirma que o apoio dos movimentos sociais são essenciais para que o Amazonas tenha mais candidaturas de mulheres, do povo preto, indígenas e LGBT+.

Além disso, Francy ainda avalia que o Partido dos Trabalhadores (PT), do qual faz parte, ainda precisa olhar com mais cuidado e dar mais apoio para candidaturas como a dela. “Nós precisamos amadurecer mais. É preciso ir até a câmara de vereadores e se ver ali. Ver preto, ver preta, ver indígena. Em Manaus, este ano não conseguimos, mas não devemos desistir. É um espaço muito importante para que o nosso povo tenha voz”.

O que é Direitos Humanos para a periferia? 

Atualmente, além de lutar contra o racismo e o machismo, a ativista também atua no combate a discriminação contra a população LGBTQIA+ e contra a intolerância religiosa. Porém, as periferias de Manaus e os seus direitos são sempre o centro das discussões e debates promovidos por ela. “Direitos humanos* pra mim é viver com dignidade e ter um transporte coletivo decente. É as crianças terem direito de brincar e poder andar na rua com segurança. É ter trabalho e renda, principalmente para o povo das periferias”.

*No dia 10 de dezembro de 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas. A Carta possui 30 artigos que delinea direitos humanos básicos que a população mundial deve ter acesso como, por exemplo, o direito à vida e à liberdade. O documento está disponível neste link: https://uni.cf/3m6eo7Q 

*Imagem destacada: Reprodução/Arquivo pessoal

Bastidores do FP

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