O candidato do Democratas fez críticas ao governo de Crivella, apontou erros do seu mandato anterior e apresentou seu planejamento caso seja eleito. 

Organizado pela Casa Fluminense e a ONG Ciudadanía Inteligente, junto à mais outras vinte organizações sociais, o evento vem entrevistando os prefeitáveis da cidade do Rio de Janeiro com transmissão ao vivo pelo Facebook e YouTube da Casa Fluminense, além da cobertura no Twitter do Favela em Pauta. As candidatas Benedita da Silva (PT) e Renata Souza (Psol) participaram do primeiro e segundo encontro do Giro, e, dando continuidade ao evento, o convidado desta semana foi o ex-prefeito do Rio (2009-2017), Eduardo Paes (DEM).

A próximo candidata do Giro nas Eleições é Marta Rocha (PDT). O encontro acontece na terça-feira, 27, às 10h30. A seguir, confira algumas perguntas que foram respondidas pelo candidato Eduardo Paes:

#Gironaseleições: Você disse que teve a possibilidade de diálogo com algumas organizações na sua primeira primeira experiência de governo e que se tivesse dado mais atenção à essas organizações, alguns erros seriam evitados. A partir dessa reflexão e considerando a questão da desigualdade racial, gostaria de saber quais dos erros o candidato vai buscar não cometer, caso seja eleito? E qual seria a sua prioridade ao adotar os marcos do Estatuto da Igualdade Racial, considerando a perspectiva de transversalização em todas as pautas do município? (Juliana Marques, representante do Mulheres Negras Decidem)

R.: Homens brancos, tá um aqui falando, enfim, acabam assumindo os espaços de poder. Não quero dizer que a gente não possa fazer direito, mas é um pouco da realidade, e ter as instituições defendendo mulheres e homens pretos é fundamental para que essa sacudida seja dada. Eu acho que eu passei muito marginalmente nessa questão no meu governo anterior, até buscávamos olhar para isso, mas acabava muito restrito à  coordenadoria de desigualdade racial. Eu assumo esse compromisso aqui que nós teremos políticas afirmativas já na definição do primeiro escalão. Quando eu olho meu primeiro escalão do governo anterior tinha apenas uma pessoa negra. Isso mostra, na coisa de admitir erros aqui, um desequilíbrio absurdo, olhando pro perfil social de nossa cidade. Sem dúvida nenhuma esse foi um erro do meu governo e tem muita gente preparada para assumir essas funções.

O outro aspecto são políticas afirmativas objetivas: nos concursos públicos, no acesso a programas sociais, e é algo que a gente precisa ter. Eu sempre foi a favor das políticas afirmativas, busquei implementar elas no governo, mas acho que tem que ser feito com mais intensidade, eu diria com acompanhamento dos números. A gente fazia, mas não havia uma preocupação com o acompanhamento dos números. Então, esse é um dos temas que eu acho que faltou mais proatividade da minha parte, por consequência da minha administração, e que dessa vez não faltará, sermos bastante proativos nessa discussão, pode ter certeza disso.

Imagens da manifestação #VidasNegrasImportam que mobilizou ativistas antirracistas (Reprodução: Instagram Favela em Pauta)

#Gironaseleições: Quais são as estratégias de atuação na saúde, com um orçamento reduzido, com uma demanda crescente e uma população adoecida e crescente envelhecimento populacional? (Claudia Cruz, especialista na área da saúde)

R.: Acho que a prefeitura do Rio sempre se diferenciou ao longo da história porque sucessivos – não só eu: Marcelo, César, Conde, César, depois eu –  sempre demos, no mínimo, o IPCA para os servidores da prefeitura. Ou seja, paga a inflação e, no mínimo, você tem um poder aquisitivo. E farei isso de novo ano que vem. Pra mim, essa história da saúde é o seguinte: é ter gente boa na secretaria comandando, bons técnicos e, como prefeito, priorizar esse tema. Vamos cair dentro e recuperar o sistema, colocar os números no eixo, (…) enfim tornar os nossos hospitais adequados de novo. 

Claudia Cruz questiona o candidato sobre os cuidados com a saúde básica (Imagem: Mayara Donaria)

#Gironaseleições: Se o senhor for eleito, como imagina a política para juventude popular que envolve o apoio a mães jovens das periferias, incentivo à cultura, à habitação, à geração de renda, acesso à educação, à saúde e o fim da violação de direitos? Podemos imaginar uma política para a juventude integrada em todo governo? (Veruska Delfino, representante Agência de Redes para Juventudes)

R.: Eu sou super contra essa tese agora de distinguir secretarias, isso é uma besteirada do tamanho do mundo. Eu vou recriar a secretaria da mulher, criar a secretaria do jovem, eu quero nem saber porque isso no final não diminui custo nenhum, é ridículo. Então, eu acho que para fazer uma política integrada, que é o que organiza as políticas públicas, a gente tem que pensar numa secretaria. O quê que eu acho que é importante a gente entender: esse momento é o momento mais crítico e, como não há política nacional, a gente vai ter que forçar a mão aqui, em políticas locais.

O futuro dos jovens periféricos e o acesso à cultura e à educação foi uma das pautas do Giro 2020 (Imagem: Reprodução Instagram)

#Gironaseleições: No início de 2020 a Câmara Metropolitana acabou aprovando a proposta do BNDS para a concessão do saneamento básico no Estado e tivemos a privatização de uma parte da Cedae. Gostaríamos de saber qual é a avaliação do candidato sobre essa concessão e como o senhor pretende atuar para garantir a ampliação do acesso ao abastecimento de água e tratamento de esgoto? (Elena Wesley, representante do Datalabe)

 R.:  Sou contra a privatização da Cedae. .Fui candidato ao governo do Estado em 2018 e disse que não faria, mas ao mesmo tempo sou a favor de concessão de bacias. Como prefeito, eu nunca fugi desse tema, ao contrário, eu sempre quis trazer para a prefeitura esse tema. Em 2010 e 2011 a gente conseguiu fazer um contrato de interdependência com a Cedae para a zona leste, para AP5 (Área de Planejamento 5) e fizemos ali uma concessão de saneamento, para você ver que isso é viável e sustentável, já que foi sem a exploração da água. E isso permaneceu com Cedae, a empresa privada que ganhou a concessão, Águas do Oeste, Foz do Oeste, sei lá como é que chama, ainda pagou uma outorga para prefeitura. Então, é perfeitamente possível fazer via concessão, sem ter que privatizar totalmente a Cedae. Esse é o tema mais absurdo que a gente tem e é muito culpa do governo do Estado sim, que não resolve o problema. 

A prefeitura do Rio, se eu for Prefeito, vai estar disposta a colaborar como fez com a AP5 em 2011, 12, não me lembro quando a gente fez essa concessão. Agora vamos exigir as contrapartidas para a cidade do Rio de Janeiro, um absurdo você ter um sistema lagunar como da baixada de Jacarepaguá. Porque fizeram um emissário submarino, mas o cocô tá saindo lá no Pau da Fome, na Boiúna, enfim, em Jacarepaguá que não tem rede de esgoto, você tem sistemas arcaicos ali. Então precisa investir nisso. Você tem áreas da zona oeste da cidade com abastecimento de água ainda deficitário, precário. Ontem eu tava andando no Rolas, uma loucura essa abastecimento. E ainda não entramos no verãozão, imagina quando chega no verãozão. Esse tema é patético, é ridículo, e o Rio de Janeiro, para variar é o recordista, mais uma vez, negativamente nessa questão. 

O candidato apresentou propostas para lidar com a questão do saneamento básico no Rio de Janeiro (Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil)

#Gironaseleições: Quais são as medidas concretas que o senhor pretende implementar para resgatar o sistema de transporte público e qual é a proposta em termos de priorização do sistema de transportes públicos nas vias da cidade?  (Clarisse Linke, representante do ITDP Brasil)

R.: O Rio, em um período de dez anos, recebeu – por uma série de circunstâncias – uma melhora na sua infraestrutura de transportes que nunca foi utilizada, essa que é a verdade. O sujeito (atual prefeito Crivella) herda uma rede com uma infraestrutura de transporte que nunca foi colocada para ser usada. Tem pouco recurso para investimento, mas vamos usar no limite o que já tem: acho que é essencial uma tarifa integrada entre todos esses modais, que é um debate difícil conseguir implantar o bilhete único nos ônibus, ônibus e BRT, mas é um desafio aqui no Rio de Janeiro quando olha para os sistemas de transportes porque são concessões diferentes. E tem o debate de subsídio. Tive meus bens bloqueados essa semana por causa de um subsídio: fiz um subsídio para passagens  gratuitas para os alunos da rede municipal durante o período do meu governo e tive meus bens bloqueados e foi tratado como crime. A minha tese é colocar esse sistema para funcionar.

O candidato Eduardo Paes (DEM) foi o terceiro convidado do #Gironaseleições (Imagem: Mayara Donaria)

A Casa Fluminense comparou as propostas do candidato Eduardo Paes com a Agenda Rio 2030, confira!

Clique aqui para assistir a entrevista na íntegra através do Facebook, ou clique aqui para assistir através do Youtube.

*Foto destacada por: Mayara Donaria

Autoras: repórteres do Favela em Pauta Dandara Franco e Ludmila Almeida.

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