Eu Voto em Negra é uma campanha organizada por organizações pernambucanas e busca dar suporte a mulheres negras candidatas e eleitoras.

Mulheres Negras e Democracia é uma iniciativa  da Casa da Mulher do Nordeste (CMN), Centro de Mulheres do Cabo (CMC), o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR), com a parceria e assessoria técnica da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e Rede de Mulheres Negras do Nordeste, que acontece em Pernambuco desde 2019. Essas mulheres estão construindo projetos de poder a partir da apropriação da Política Institucional e, para isso, promovem escolas e espaços de formação teórica sobre diversos temas que permeiam a temática da participação política. Elas oferecem suporte às mulheres que decidiram disputar essas eleições municipais de 2020 a partir da campanha Eu Voto Em Negra

Uma campanha de caráter regional que estimula não só que mulheres negras se candidatem, mas que sejam votadas. Oferecer cursos e oficinas de oratória, advocacy e mídias sociais a quem se candidata; e conteúdos a partir de dados da realidade política que vivemos a quem apoia a ideia são as principais frentes de atuação da campanha. “Se é importante que mulheres negras se candidatem, que outras mulheres e, também, homens digam”, afirma Piedade Marques, coordenadora da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco. 

Na plataforma da campanha estão disponibilizados materiais para quem quiser e puder ecoar a importância de ter mulheres negras ocupando a política, basta se inscrever para receber os conteúdos em primeira mão. Atualmente o grupo das articuladoras conta com 15 mulheres.

Em fevereiro deste ano, Em Recife e Olinda (PE), aconteceu o fórum Mulheres Negras e Poder, que deu o calço necessário para que a campanha Eu Voto Em Negra pudesse atuar. Participaram cerca de 120 lideranças e pré-candidatas que discutiram sobre o que impede a eleição e como burlar a invisibilização dessas atrizes políticas que atuaram bravamente em toda a história do Brasil. Mulheres de todo o Nordeste, e algumas vindo do Sudeste, criaram juntas uma carta política que foi entregue aos diretórios estaduais de partidos compreendidos enquanto aliados para a superação das mazelas sociais.

Eu Voto em Negra foi lançada virtualmente em 23 de julho, às vésperas do Dia Nacional de Tereza de Benguela e Dia Internacional da Mulher Negra Latinoamericana e Caribenha (25), e contou a participação de mulheres de todos os estados do Nordeste. A campanha é mais uma iniciativa de renovação política e tem parceria com organizações como Mulheres Negras Decidem, Enegrecer a Política, A Partida, Elas por Elas e Meu Voto Será Feminista. O diálogo com essas instituições acontece de forma a fortalecer objetivos comuns de cada uma. E, em se tratando do cenário político de 2020, todo apoio é essencial. 

A pandemia do Coronavírus escancarou os abismos entre as realidades sociais, o que faz Itanacy Oliveira, assistente social e diretora do programa Mulher, Trabalho e Vida Urbana da Casa da Mulher do Nordeste, concluir ser um momento oportuno para denunciar o racismo, a negação e a invisibilidade dos candidatos negros e negras, “o projeto surge muito com essa ideia de fortalecer as mulheres nesse cenário da política, inclusive agora pegando um cenário, um contexto, que além de pandemia tem eleições”. 

Cerca de 100 candidatas estão sendo apoiadas pela campanha em todo o Nordeste, mas mais do que isso, o questionamento sobre o porquê de votar em mulheres negras tem se difundido ainda mais.

Mulheres Negras na Política

Fazer política, todo mundo faz. Afinal, política é tudo o que a gente faz e representa. Mas fazer política nos espaços de decisões institucionais, nem todo mundo consegue. Esse espaço ainda é reservado para um grupo de pessoas brancas continuarem fazendo valer vícios coloniais de dominação e controle das raças. E é só em 2014 que a gente conseguiu traduzir isso em dados com a instituição do critério raça/cor nos registros de candidaturas. Essa foi uma reivindicação da extinta Secretaria Nacional de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e é a partir dela que a discussão sobre participação política se fortalece ainda mais, pois é o homem branco de meia idade quem mais se elege no País todos os anos.

Em março de 2018, um outro acontecimento deixou isso latente: o assassinato de Marielle Franco, à época vereadora da cidade do Rio de Janeiro. O episódio tornou ainda mais valioso que as pessoas negras, sobretudo as mulheres, se apropriassem da política institucional no País. O Brasil um um dos países que mais mata defensores dos Direitos Humanos e no ano passado foi o quarto no mundo nesses assassinatos. O caso Marielle demonstra que nem sendo uma parlamentar eleita ela foi poupada.

Ao tentar silenciar uma, provocaram o grito de ordem de várias outras por todo o país e os primeiros frutos dessa tomada de consciência foram colhidos ainda em 2018, quando vimos mulheres negras sendo eleitas em alguns estados, aumentando o número de pessoas comprometidas com a agenda antirracista no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas.

Neste ano, o Marco Zero Conteúdo, veículo de comunicação independente de Pernambuco, anunciou a segunda edição do projeto Adalgisas, que fez a cobertura das candidaturas femininas à Câmara dos Deputados, Senado e Governo do Estado de Pernambuco em 2018 e este ano vai se dedicar às candidaturas à vereança. Já foi verificado que houve um aumento de candidaturas femininas pretas este ano no estado.

Para Yasmim Alves, 23 anos, filiada ao PSOL há sete e integrante da organização política Liberdade Socialismo e Revolução (LSR), o aumento das candidaturas negras e femininas são reflexos tanto da trajetória dos intelectuais negros e negras na sistematização dos conhecimentos quanto ta popularização da discussão do racismo e feminismo. “Nós mulheres negras organizadas, conseguimos criar condições de forma coletiva de erguer a nossa voz”, defende.

“É nessa coletividade que o pessoal se torna político e que o privado se torna público e a gente vai se formando politicamente e criando forças pra se posicionar dentro da nossa casa, da nossa comunidade, do nosso partido, da nossa associação, do nosso sindicato”.

Yasmim Alves

Ainda nessa mesma linha de pensamento, ela entende que embora perceba-se que uma mudança de mentalidade venha se impondo, existe também a urgência dos partidos que se colocam enquanto aliados para um futuro mais justo em não deixar que antirracismo e feminismo sejam pautas de integrantes, mas da instituição como um todo.

Em todo esse contexto, é importante entender que a juventude é essencial nessa disputa de narrativas e projetos de poder.

*Foto destacada por Manú Castro

Bastidores do FP

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