O clipe vai ao ar nesse sábado, 14, às 15h. Fotos: Gabriel Gomes/Kondzilla.
O clipe vai ao ar nesse sábado, 14, às 15h. Fotos: Gabriel Gomes/Kondzilla.

Nesse sábado, 14 de dezembro, três da tarde, será lançado no Youtube da KondZilla o clipe da Acadêmicos do Grande Rio para o Carnaval 2020. As filmagens aconteceram no terreiro Axé Wallê Ty Odé, cujo líder espiritual é Danilo Gayer, um dos fundadores da escola e na quadra da Grande Rio, ambos em Duque de Caxias. 

 Participaram da gravação a rainha de bateria Paolla Oliveira e o destaque David Brazil, além de todos os segmentos da agremiação.

Atriz Paolla Oliveira durante a gravação do clipe oficial da Grande Rio. Foto: Gabriel Gomes/Kondzilla.

Esse já é o segundo ano da parceria entre a Tricolor de Caxias e a KondZilla. Onairam Pinheiro, produtor-executivo do maior canal de música do Brasil no Youtube, vê isso com bons olhos. “É gratificante essa aproximação com os demais gêneros. O samba, assim como o funk, é uma vertente cultural orgânica deste país”. 

Equipe KondZilla durante a gravação no terreiro Axé Wallê Ty Odé. Foto: Gabriel Gomes/Kondzilla.

Para Onairam, o projeto deste Carnaval foi especialmente importante para dar atenção à questão da intolerância religiosa. “É uma forma de combater o estigma obscuro que tem o candomblé em parte da população. Somos contra qualquer tipo de preconceito e queremos que o clipe mostre, sobretudo, a beleza da fé”, conclui o executivo.

Joãozinho da Gomeia, o maior babalorixá do Brasil, é o tema do enredo da Grande Rio para o Carnaval 2020

“Tata Londirá: o Canto do Caboclo no Quilombo de Caxias” terá a missão de apresentar no Carnaval um dos mais importantes Pais de Santo do Brasil.

Os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad analisando peças desenhadas para o Carnaval 2020. Foto: Renato Silva / Favela em Pauta.

 No mês de junho a G. R. E. S. Acadêmicos do Grande Rio anunciou em seus perfis nas redes sociais o enredo “Tata Londirá: o Canto do Caboclo no Quilombo de Caxias”, uma homenagem ao lendário pai de santo Joãozinho da Gomeia (1914-1971), que teve sua vida acompanhada de maneira constante pelas revistas “O cruzeiro” e “Manchete”, quando atendia em seu terreiro, bem aqui na Baixada Fluminense, no município de Duque de Caxias, levando o Candomblé não só às revistas que o acompanhavam, mas aos jornais, à toda mídia da época.

Quem carrega a responsabilidade de conduzir o próximo carnaval da escola é a dupla de carnavalescos formada por Leonardo Bora e Gabriel Haddad. Eles chegaram na Baixada após assinarem dois desfiles muito elogiados na Série A com a Acadêmicos do Cubango e conquistarem o Prêmio SRzd Carnaval 2019 de melhores carnavalescos. 

Desde os primeiros contatos eles já tiveram noção do tamanho da responsabilidade de resgatar a identidade da escola, como conta o carnavalesco Leonardo Bora. “Nós percebemos que havia essa ideia, como a gente diz: ‘algumas ideias ficam no ar orbitando a escola’. E nós entendemos que o momento era pertinente para trazer essa memória, nesse contexto em que tantos terreiros de toda Baixada Fluminense e do município de Duque de Caxias especificamente vêm sendo ameaçados por uma onda de intolerância religiosa”, comentou Leonardo sobre o processo de escolha do tema.

Nesse cenário, de acordo com Bora, é importante que, além da temática religiosa, o enredo traga também a representatividade ao povo caxiense. “O Carnaval é esse espaço potente tão rico para trabalhar essas questões, então Joãozinho da Gomeia é dar voz à uma comunidade que clamava por algo que falasse de si própria, que falasse de uma memória da escola, que é uma agremiação que ascende ao grupo especial do Rio de Janeiro nos anos 90 cantando enredo de temática brasileira”, acrescenta o carnavalesco.

Parceiro de Leonardo na construção de mais um enredo, Gabriel Haddad, também acredita que o fato de o tema ter partido da comunidade dará uma força extra à escola. “Faz com que o enredo seja uma forma de reverberar a força e a luz de uma figura tão forte como João sobre a intolerância declarada contra religiões de matrizes africanas”, conclui Gabriel.

Já na elaboração da pesquisa e construção da ideia de um enredo, João se mostrou um desafio para os carnavalescos. Por se tratar de uma figura altamente popular, que aparecia constantemente nos jornais e revistas das décadas de 40 e 50, foram acumuladas cerca de 300 matérias sobre ele, e pelo volume, João parecia estar diariamente nas colunas e matérias da época. Para tratar de tanto de material, o pesquisador Vinícius Natal foi peça fundamental nesse processo de estudo.  

A marca de “Tata Londirá: o Canto do Caboclo no Quilombo de Caxias”. Foto: Renato Silva / Favela em Pauta.

Parte marcante desse papo com os carnavalescos é a sensação de que João é uma figura capaz de trazer atenção a temas ainda tão necessários como o respeito à diversidade religiosa e de gênero. Que levou uma crença do status de “marginalizada” pela sociedade branca ao foco máximo na imprensa, recebendo em seu terreiro figuras importantes como Getúlio Vargas, Juscelino e até mesmo a Rainha Elizabeth II. Assim, o Babalorixá firmou seu nome na história do Candomblé, do Brasil, mas principalmente da cidade que escolheu para se estabelecer: Duque de Caxias.

O Joãozinho de Caxias

Cena do espetáculo “Joãozinho da Gomeia, de filho do tempo a rei do candomblé”, de Átila Bee. Foto: Isis Maria.

Apesar de ser natural de Inhambupe, na Bahia, tendo iniciado então na Rua da Gomeia, bairro de São Caetano, o irreverente pai de santo se estabeleceu mesmo foi em Duque de Caxias, lugar que escolheu para despontar definitivamente como um dos maiores nomes da história do Candomblé no país.

Quem pensar que Joãozinho da Gomeia é absoluta novidade, certamente não conhece Caxias e a Grande Rio, que já fez menção ao nome e talento de João, no samba-enredo “Dos Caminhos de Passagem Ao Caminho do Progresso – Um Retrato do Brasil”, em 2007.

Uma simples menção foi o suficiente para chamar a atenção do artista multifacetado, conterrâneo da Baixada Fluminense, Átila Bee, ator, autor, diretor e também cantor, ele conta que percebeu e buscou conhecer um pouco mais sobre quem era esta figura aparentemente importante para a escola.

E foi justamente após ler sobre escavação na região que Átila recebeu um convite para um projeto de abertura do Gomeia Galpão Criativo. Era o encontro de um grande artista interessado em uma figura incrível de sua região, com a oportunidade de se aprofundar e interpretar João Alves Torres Filho, o Joãozinho da Gomeia, iniciando uma bela performance.

O trio, formado pelo ator e diretor, Drika Rodrigues e Tauana Faria. Foto: Isis Maria.

Luzes apagadas, avisos reforçados, todos prontos. Drika Rodrigues e Tauana Faria, duas mulheres de talento e sorrisos igualmente grandes, mãos potentes e ritmadas, nas funções de Ogã – algo desafiador às tradições da religião – dão o tom e o ritmo, anunciando o início de “Joãozinho da Gomeia, de filho do tempo a rei do candomblé”, espetáculo que segundo o próprio autor e ator é um divisor de águas para sua carreira, que já passa dos 25 anos.

Para Átila é muito importante, por diversas razões, que a Grande Rio traga no próximo carnaval João como tema principal de seu enredo. “Que bom que tem gente pra realmente reagir, pra fazer a coisa acontecer, seja colocando o Candomblé em cena, discutindo a religião, falar no carnaval ou onde mais o Candomblé tiver de estar, que é exposto mesmo, pra todo mundo ver”, ele declara, mesmo confessando não ser adepto da mesma fé, mas defendendo o direito e o respeito à diversidade religiosa.

Para o artista, seu trabalho realizado há alguns anos e a escolha do enredo da Grande Rio, se trata de um único movimento entrelaçado, que deve conduzir ao respeito amplo e includente. “É uma grande honra para nós, ter iniciado esse processo do João a dois anos atrás, lá no Rio, num espaço alternativo, no Terreiro Contemporâneo e agora a gente veio pra casa, a terra que ele escolheu viver, e justamente chegando aqui a Grande Rio joga essa informação de que vai levar o João para a avenida, chega a ser inacreditável”, acrescenta Átila, praticamente incrédulo com a forma que os caminhos caminhos se cruzaram.

Dessa forma, ainda segundo o ator e diretor, tudo está seguindo do jeito que João tanto sonhou. “O Candomblé precisa estar no palco, no teatro, tem que estar na rua, em tudo que é esquina, no cinema, em debates e na passarela de carnaval. Aí a gente chega realmente no ponto máximo. Acho que a escola vai arrasar, a gente torce muito para ser uma revolução assim, como era João”, finaliza o autor minutos antes de dar início ao espetáculo mais uma vez.

O espetáculo “Joãozinho da Gomeia, de filho do tempo a rei do candomblé” teve seu encerramento no último dia 1 de dezembro, no Teatro Gonzaguinha, Praça XV, mas Átila Bee garante que estará presente na avenida no próximo carnaval, só não sabemos ainda em que ala ou alegoria, aguardemos.

Bastidores do FP

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