No Brasil, até 2014, os traslados de pessoas que não tinham veículos próprios eram feitos pelos transportes públicos e táxis, além dos modais não motorizados. Desde então, os transportes por aplicativo foram integrando cada vez mais a rotina dos brasileiros. 

Nesses oito anos de atividade no país, esse serviço de transporte trouxe sensações como segurança, economia de tempo e praticidade para a vida de milhões de usuários.

“As primeiras impressões eram de um meio de transporte um pouco mais seguro porque tinha o aplicativo, você poderia compartilhar com outras pessoas o seu caminho, você via a placa dos motoristas, tinha como manda a foto pro seu pai, sua mãe, uma amiga”, conta Maria Alice Andrade, estudante de psicologia e moradora do Recife.

Antes, ao sair à noite, muitas vezes ela precisava esperar amanhecer para pegar um ônibus – seja pelo valor da corrida dos táxis, ou por medo de sofrer assédios novamente – algo que não vive mais com os carros por aplicativo. 

Dividir o valor da corrida com amigos é também o que possibilita que a universitária consiga usar esse serviço para driblar algumas inseguranças que estar na rua, num ponto de ônibus, lhe causa em determinados momentos.

Ela conta que a chegada desse serviço preencheu lacunas da falta de integração entre os modais e possibilitou novas formas de transitar pela cidade. Se antes, era preciso sair com horas de antecedência e fazer várias baldeações para chegar a um lugar mais longe, agora com os transportes por aplicativo a preparação é outra.

Aos 31 anos, Aida Polimeni, considera que a vida mudou radicalmente com os carros por aplicativo. “Hoje em dia é muito mais fácil e prático se locomover e, inclusive, saber quanto vai dar a viagem, entender se compensa ou não. Acho que a vida ficou mais prática, mais rápida porque, enfim, você consegue tomar as decisões de um jeito melhor”, comenta.

Entretanto, tem uma opinião diferente no quesito segurança. Para a publicitária, de certa forma, estar no carro de um desconhecido é estar numa posição de vulnerabilidade e que se existisse a possibilidade de escolher o gênero do motorista, pelo menos em determinados horários, a experiência do serviço poderia evoluir bastante para as mulheres.

Ainda há muito o que melhorar

Mesmo com os saldos positivos, em determinadas áreas das cidades esse “novo” meio de transporte ainda não conseguiu ser tão transformador. Quem relata é Edicléia Santos, 64 anos, educadora social, artesã e moradora do bairro de Passarinho, na zona norte do Recife. Uma comunidade que foi realocada sem muita preocupação do poder público em fornecer os serviços essenciais de saúde, educação, lazer e transporte. Desde os anos 90, a comunidade reivindica e vem conquistando direitos básicos de acesso à cidade.

Segundo Edicleia, que vive no bairro desde a criação, a chegada dos aplicativos de transportes afetou sensivelmente a vida. “Eles demoram a chegar, muitas vezes a gente demora bastante pra sair daqui pra algum lugar e pior porque à noite os carros não querem entrar de jeito nenhum. Dá 8h, 9h da noite e os carros não querem entrar. Aí quem conhece algum morador que faz transporte de uber, ok, mas se não, ninguém consegue”, conta. 

Indignada, ela conta que, em Passarinho, até para ficar doente tem que ter hora, porque na madrugada não é tão simples sair para buscar assistência de saúde. 

A artista que viveu boa parte da vida na Cohab 1 de Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, Nathê Ferreira, conta uma outra face vivida por passageiros que moram nas chamadas “zonas de risco”, comunidades periféricas e/ou de difícil acesso. Ela já foi deixada pelo meio do caminho de casa porque o motorista se recusou a continuar a viagem por achar longe ou por conta do trajeto em ladeiras. Em algumas comunidades, os moradores chegam a desenvolver suas próprias soluções em transporte de aplicativo para que as locomoções possam acontecer de forma mais tranquila.

Além dessas questões, os valores das viagens vêm chamando cada vez mais a atenção dos passageiros. O serviço que se destacava inclusive por seus preços mais acessíveis tem perdido essa estrela de avaliação, embora não haja um sinal de declínio em sua popularidade entre os usuários.

Bastidores do FP

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