Foto: TRE/TO

O momento da definição dos representantes políticos de forma estadual e nacional se aproxima no Brasil. E, após um período complicado onde as pautas essenciais para quem reside em territórios vulnerabilizados, sofreram consequências severas, a disputa eleitoral de 2022 representa um grito de “reivindicação e de existência”, principalmente, para os eleitores mais jovens, como define a cientista política Richelle Silva, de 24 anos.

Moradora da Mangueira, Zona Norte do Rio de Janeiro, Richelle vê as próximas eleições como um período determinante para inclusão de pautas e estratégias políticas direcionadas às populações vulneráveis. Segundo a especialista, o cenário crítico vivenciado pela pandemia do coronavírus e a alta dos preços nos alimentos e de serviços essenciais trouxe uma sensação de incômodo para boa parte da população brasileira.

Além disso, ela aponta que é fácil perceber essa sensação quando observamos o movimento recorde de novos eleitores entre 16 e 18 anos neste ano: 2.042.817, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os dados do TSE revelam um aumento de 47.2% em relação ao mesmo período de 2018 e de 57,4% em relação a 2014. Muito deste crescimento passa pelas estratégias e campanhas realizadas por influenciadores digitais, mobilizações de artistas e incentivo familiares e de amigos próximos.

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Nas redes sociais, artistas e instituições engajaram com ações e iniciativas para a retirada do título de eleitor. Foto: Reprodução

“Nunca antes na história do Brasil, houve um movimento tão grande pela presença da população jovem nas eleições. Isso nos mostra que o sentimento de renovação e de pautas que sejam mais atuais, que representam populações e territórios diversos ganham espaço. Hoje, é comum ver estratégias políticas em aplicativos utilizados, em grande escala, por essa faixa etária, como o Tik Tok. Isso demonstra a importância que esses votos terão na disputa eleitoral”, comenta.


A expectativa e ansiedade por mudanças de quem votará pela primeira vez

Junto com a proximidade deste período determinante para o país, a ansiedade e a expectativa ganham espaço na rotina de quem votará pela primeira vez, como a escritora e ativista das causas negras Larissa Fernandes, de 17 anos. Moradora de Estância Velha, no município de Canoas, no Rio Grande do Sul, ela vê a entrada dos mais jovens no cenário político como uma “esperança” de um país mais democrático.

“No meu espaço pessoal, eu vejo várias pessoas se reunindo e incentivando cada vez mais os jovens para ingressarem na política. Sim, a política é um assunto extenso e desde pequenos somos ensinados que é um assunto para adulto” declara a jovem. Ela complementa dizendo que, para ela, isso funciona como uma barreira ou mesmo trava para nossa população. “A política é e deve ser também para jovens. Acredito que esse pensamento é ultrapassado e escondem esse fato porque têm medo de mentes pensantes, mentes de jovens que buscam a mudança e a revolução. Sim, é extenso como qualquer outro assunto social, mas não é o monstro como a política é representada”, expõe.

Também no sul do país, mas no interior do estado, mais especificamente em Vacaria, Jordana Nunes de Souza, de 17 anos, enxerga esse momento como forma de reivindicar a consciência social e responsabilidade de quem governa o país. De acordo com ela, o sentimento de revolta falou mais alto em 2018 para boa parte da população, o que trouxe instabilidade política no Poder Executivo. Ela ainda acredita que o Brasil tende a seguir um caminho da democracia, mesmo que encontre empecilhos no caminho.

Para Rafaela Albergaria, especialista em direitos humanos e co-autora do livro Mobilidade Antirracista (Ed.Autonomia Literária), de 32 anos, a importância de lideranças jovens nas eleições define um tempo de esperança e revitalização na estrutura social e política do Brasil. Para ela, que é pré-candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) para deputada estadual, as próximas eleições contarão com a participação ativa de mulheres negras, LGBTQIAP+ e PcD’s na disputa institucional, pois entenderam que são esses espaços que definem as condições de vida da população.

“Ainda estamos longe de ter condições paritárias nos partidos para a disputas eleitorais, mas passa por nós a retomada e o aprofundamento da democracia e nessas eleições passaremos da resistência ao poder. Sempre ouvimos falar que a juventude é o futuro da nação, mas vivemos num país que produz violências diárias contra esse mesmo grupo, especialmente de jovens mulheres, pessoas negras e LGBTQIAP+. A ausência de políticas sociais que garantam vida digna e a possibilidade de sonhar e manter perspectivas sobre o futuro afeta a própria existência desse grupo”, comenta.

A produção deste material faz parte da campanha #CompartilheInformação #CompartilhaDemocracia, uma iniciativa do Artigo 19, do Perifa Connection, da qual o Favela em Pauta faz parte.

Imagem destacada: TRE/TO | Edição: Renato Silva





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