Falas públicas, jograis e intervenções poéticas. Essa era a programação do Ato de Justiça Por Beto Freire em Recife neste sábado (21). Na frente do Carrefour de Boa Viagem, bairro da zona sul, dezenas de pessoas se reuniram para protestar contra o supermercado que esta semana somou mais uma atitude racista a seu  histórico.

O assassinato de João Alberto Silveira Freitas no estacionamento do supermercado Carrefour em Porto Alegre, às vésperas do Dia da Consciência Negra, desencadeou revoltas por todo o país. Enquanto o presidente o vice-presidente não tem o menor constrangimento em defender que não existe racismo no Brasil, um homem negro de 40 anos é espancado até a morte e sem ninguém oferecer socorro.

O ato começou por volta das 11h da manhã em frente ao supermercado. Os manifestantes pintaram “justiça racista”, “vidas negras importam” e “respeitem nossos corpos” no chão e em faixas. Integrantes dos coletivos que organizaram o ato discursaram e puxaram gritos de ordens durante todo o evento que encerrou às 13h.

Quando a ação já estava se dispersando, a Polícia Militar deu voz de prisão a uma ativista da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco julgando que ela fosse a responsável pela organização da ação. A partir disso, começou um tumulto com direito até a spray de pimenta provocado pelos próprios policiais, que não estavam identificados.

A manifestante já estava a caminho do seu transporte de volta pra casa quando foi impedida de entrar no carro e sair do local. Os policiais alegaram que ela tinha que se dirigir à delegacia pra prestar esclarecimento do ato, que foi uma organização coletiva. Cerca de 60 pessoas acompanharam a ativista, que prestou depoimento e foi liberada sem TCO (Termo Circunstaciado de Ocorrência).

Confira a nota da Articulação Negra de Pernambuco sobre o ocorrido:

NOTA PÚBLICA SOBRE O ATO DE PROTESTO NO CARREFOUR

Nós, ativistas da Articulação Negra de Pernambuco, vimos a público, através desta nota, expressar nosso protesto pela ação descabida e desproporcional da Polícia Militar de Pernambuco no dia de hoje.

Entre as 11 e as 13 horas, realizamos uma manifestação em frente ao Carrefour de Boa Viagem, em protesto contra o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos que foi morto a pancadas numa loja dessa mesma rede na cidade de Porto Alegre.

Nosso protesto foi pacífico e ao final da manifestação, quando algumas pessoas mais exaltadas entraram no estacionamento, foi o nosso grupo que pediu calma, que pediu que as pessoas saíssem do estacionamento da loja e voltassem para a rua, para fazermos a dispersão e encerrar o ato. Nenhum de nós provocou ou incitou violência em nenhum momento.

Quando estávamos dispersando, recolhendo nossas faixas e cartazes, a polícia tentou prender uma de nossas companheiras da Anepe. Cercamos a companheira para protege-la e a PM nos cercou.
Em nenhum momento, durante todo o tempo em que esse confronto se deu, a PM informou qual o fundamento legal para a detenção de nossa companheira.

Argumentamos várias vezes que ela era justamente uma das pessoas que estava pedindo para as pessoas saírem do estacionamento da loja e voltarem para a rua para encerrarmos o ato.

A PM mobilizou mais de 10 viaturas e 1 helicóptero, um grande número de policiais, para prender a ativista e reprimir os manifestantes que tentavam protege-la. Montou-se uma operação desproporcional, um enorme aparato, desnecessário, contra pessoas desarmadas.

Pessoas foram agredidas fisicamente, um homem idoso foi derrubado por um policial, spray de pimenta foi usado contra nós.

A quem a PM estava protegendo? Ao nosso ver, a proteção era para o patrimônio privado da rede Carrefour!

Na delegacia, é importante frisar que não foi feito TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), o que corrobora nossa afirmação de que nossa companheira não cometeu crime algum. Após algum tempo ela foi liberada.
O que justifica ter detido e levado para a delegacia uma pessoa sem sequer apresentar fundamento legal para esse ato?

Demandamos do Governo do Estado que seja também apurada a atuação da PM, o uso desse aparato desproporcional nessa situação.

Que o braço do Estado não se resuma sempre à violência contra a população negra!

Basta de racismo! Vidas Negras Importam!

#Justicaporbeto

*A matéria aguarda atualizações

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