O motivo pelo qual me envolvi com jornalismo é notável: nunca me senti representado pelo modo como os grandes meios de comunicação noticiavam as favelas. Lá se vão quase uma década de atuação na comunicação comunitária, principalmente, na Rocinha. Com a ajuda de amigos e familiares, fundamos o Viva Rocinha (inativo) e o Fala Roça (ativo). E em 2018, junto com Daiene Mendes e Thaís Cavalcanti, fundei o Favela em Pauta.
Na Rocinha, existem cerca de uma dezena projetos de comunicação local com participação nas redes sociais, entretanto, o diálogo entre comunicadores é baixo. Esse cenário também é visível em outras favelas na cidade. Mais do que o diálogo, as ações em parceria são poucas. Na minha percepção, isso é influenciado por questões ideológicas, iniciativas pessoais ou linhas editoriais diferentes – se é que possuem. E isso me preocupa bastante.
Vemos diariamente as favelas sendo bombardeadas de notícias tendenciosas e mau apuradas. Recentemente, o jornal carioca Meia Hora publicou uma matéria de capa no qual o tráfico teria colocado área de lazer para crianças no meio da rua na Nova Holanda, no Complexo da Maré. A foto usada na capa do jornal era de moradores se divertindo em piscinas.
Para um leitor comum, a matéria revela uma verdade. Mas para mim, morador da favela, o fato apresentado não condiz com a realidade. Tanto é que resolvi apurar a capa do Meia Hora e descobri que não tinha nenhuma investigação policial em curso e os agentes da Polícia Civil só tomaram conhecimento da denúncia pela imprensa. Ora bolas. Um fake news escancarado na capa de um dos maiores jornais direcionados a classe C e D.
É nesse ponto que quero chegar. Nós, comunicadores de favelas, precisamos nos unir em prol dos moradores de favelas. Tudo o que criamos valem mais do que likes. Apesar das favelas cariocas terem características diferentes, as lutas são praticamente as mesmas. Por exemplo, o saneamento básico. As escolas públicas. As prometidas ações sociais do governo federal nas favelas no âmbito do Plano Nacional de Segurança Pública.
Agora com a intervenção federal na Secretaria Estadual de Segurança Pública do Rio, nossos corpos estão na reta. Eu não li nenhuma linha nos jornais cariocas sobre o que mais desejamos: intervenção social. É sempre o mesmo discurso de que as favelas precisam de intervenções militares.
Devemos parar com a mania de falar um para o outro: “Vamos combinar de fazer algo juntos” e isso fica apenas no campo do desejo. É preciso ação, proatividade, realização. O comunicador da Maré precisa cruzar o Rebouças e trocar ideias com o comunicador da Rocinha. O comunicador da Rocinha precisa pegar o metrô e dar um pulo na Mangueira. A missão é circular a cidade e co-criar. Ficar só em nosso território não surtirá o efeito social que desejamos.
Ninguém conhece melhor nossas favelas do que nós mesmo. O jornalismo de favela é uma ferramenta de comunicação poderosa que assusta a grande imprensa. Eles tem medo do que possamos produzir e publicar. O espaço no Favela em Pauta é aberto para os favelados que desejam publicar artigos de opinião ou reportagens sobre a favela onde vive.
Em 2018, eu peço: mais união, por favor.