É óbvio que o lixo no chão é uma merda, tá errado, com certeza mas não é APENAS isso que faz uma enchente como essas que a Rocinha viveu duas vezes nos últimos dois meses, em 2019.
A Rocinha está se multiplicando de tamanho, assim como várias outras favelas no Rio de Janeiro. Nossa estrutura atual está ultrapassada e simplesmente não comporta mais o tamanho dessa população. Acho que nunca comportou. Outras coisas básicas vem sendo insuficientes há tempos, como água potável encanada, fornecimento de energia elétrica, transporte público, creches e escolas. Você sente que falta luz e água com mais frequência e que o busão tá mais cheio, não sente?
O mesmo acontece com o esgoto: quando não vai direto pra vala, transborda pelos bueiros, mesmo sem estar caindo uma gota de chuva. Completamente sobrecarregado. Você já deve ter percebido isso se você anda dentro da Rocinha. Não tem um dia que eu não pise num esgoto pra chegar em casa.
Você já deve ter tido a sensação que essas tragédias só acontecem no morro. Faz sentido porque é na favela que falta sistema de água e esgoto decente. Falta de tudo mesmo. O asfalto tem estrutura, a favela não tem.
Problema complexo e profundo. Difícil e caro de resolver e é da responsabilidade da administração a nível municipal, ou seja PREFEITO E VEREADORES.
A última vez que tivemos obras de infraestrutura na Rocinha foi com investimento federal do PAC. PAC 1 não foi concluído e o PAC 2 nem saiu do papel. O plano diretor dessa obra foi criado pensando no saneamento básico.
Precisamos cobrar dos nossos representantes melhoras efetivas e projetos de longo prazo para resolver essas questões de verdade. Mas isso é chato, mimimi né?
Nos ocupamos na internet chamando o favelado de porco e que vai morrer soterrado no lixo porque merece mesmo. Toda vez que a alguém fala isso um político ri alto e assiste a gente se matar comendo pipoca com o nosso dinheiro roubado do outro lado da tela do celular dele. Culpar o favelado é muito mais fácil e legal e ajuda os responsáveis a ficarem escondidos atrás do argumento mais tosco do mundo: a culpa é de quem joga lixo no chão.