Criançada do Jardim Gramacho brincando na festa de Natal.
Criançada do Jardim Gramacho brincando na festa de Natal.

No dia 15 de dezembro as crianças da Favela Parque Planetário, em Jardim Gramacho, tiveram um dia para sorrir muito e agradecer aos “tios” do Projeto Ame pela festa que foi um verdadeiro Natal Encantado. O evento aconteceu em um sítio em Xerém, bairro vizinho, que também fica localizado em Duque de Caxias – Baixada Fluminense.

Mais de 60 crianças saíram da comunidade, em um ônibus cedido em forma de doação pela Viação Vera Cruz, a caminho de um dia repleto de brincadeiras, diversão, muitos sorrisos e presentes.

A festa de Natal só foi possível por conta de doações de diversas pessoas de todo o estado, alcançadas através das redes sociais, e do trabalho de voluntários do projeto social, que hoje é formado por 167 pessoas, e administrado por 5 mulheres: Thayane Matos, a fundadora do projeto, Tatiana Dantas, Mariana Mendonça, Nágila Souza e Giselle Morgana.

A favela beneficiada pelas ações do grupo vive uma realidade muito delicada. Ela fica bem próxima ao antigo Lixão do Jardim Gramacho, que foi desativado em 3 de junho de 2012, deixando muitos moradores sem a única opção de trabalho a que tinham acesso.

A Favela Parque Planetário, próxima do antigo lixão e distante dos olhos da prefeitura.
A Favela Parque Planetário, próxima do antigo lixão e distante dos olhos da prefeitura.

A Lei 12.305/10 determinou o fechamento dos lixões e instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, mas boa parte dos moradores tirava o sustento da família da coleta de recicláveis e terminou prejudicada.

Essa parcela da comunidade teve mais uma dificuldade somada às faltas de saneamento, saúde, segurança, educação, lazer e outros direitos básicos que permanecem inacessíveis. Tudo isso, graças às gestões da prefeitura de Caxias, que segue fechando os olhos para a localidade.


Moradores contam que a vida de quem tirava a renda mensal do lixão ficou péssima após a desativação. Famílias passaram a conviver com necessidades que antes eram supridas pelo trabalho com a reciclagem. Os depósitos, que davam trabalho para muitos, hoje já não têm tanta demanda, o que dificulta mais.

A moradora Sandra Gonçalves conta que as coisas começaram a melhorar com as doações, mas a vida chegou a momentos ainda mais difíceis. “Eu mesma, passei muita necessidade, não tenho marido, criei minhas filhas pagando aluguel. Trabalhava em depósito de dia e no lixão de noite. Quando acabou, chegou ao ponto de eu ter um pão e não tomar café, para ver minhas filhas comendo, por que eu não tinha trabalho”, explica.

Solidariedade e o início da missão de ajudar

A iniciativa de organizar voluntários, coletar doações e dispôr de dias inteiros de trabalho para entrega de cestas, brinquedos e afeto nasceu há apenas 6 meses e já alcançou mais de 200 pessoas.

Números alcançados pelo Projeto Ame em apenas metade de 2019.
Números alcançados pelo Projeto Ame em apenas metade de 2019.

Essas marcas foram atingidas apenas por conta do esforço coletivo de uma rede de pessoas de Duque de Caxias e municípios vizinhos, já que o grupo não conta com apoio político, nem mesmo órgãos oficiais do município, nem de outras esferas públicas.

O projeto atende regularmente a 23 famílias cadastradas, mas sempre acaba beneficiando novas famílias. Isso acontece por que todo mês os voluntários superam a meta estabelecida possibilitando uma atuação mais ampla.

Responsável pela iniciativa, Thayane Matos conta que a ideia do projeto veio após o tratamento da depressão, como uma forma de dar sentido ao que entende por sua missão: doar amor e atenção. “Hoje eu digo que vou doar amor e recebo o dobro. Me sinto curada e em troca fazemos o nosso melhor por eles”.

O perfil no instagram – identificado como @todospelolixao – nasceu só com a intenção de mostrar o que de fato era feito com os alimentos arrecadados. Hoje o projeto conta com uma legião de dezenas de outros voluntários, mas a organizadora garante que a motivação é maior. “Mesmo se um dia não tiver ninguém do meu lado, eu vou continuar indo… eu aprendi que o amor e a gratidão curam tudo”.

A ONG tem alcançado muitas metas que sequer foram projetadas antes, mas a fundadora garante que, nesse encerramento do primeiro ano, a organização carrega um desejo para o futuro próximo: construir um espaço onde as crianças possam conhecer um mundo novo, além de doações e festas. Possibilitando capacitação cidadã aos adultos para garantir que as crianças continuem estudando.

Se você tiver interesse em contribuir com as ações do projeto, basta buscar o @todospelolixao no instagram e chamar no direct. Eles vão te dar todas as opções de participação e responder qualquer dúvida que tiver.

 

Bastidores do FP

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