Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Rio de Janeiro – Mulheres marcham em Copacabana para celebrar dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha durante a 3ª Marcha das Mulheres Negras no Centro do Mundo (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Nos últimos anos, a importância da presença das mulheres negras no avanço cultural e sociopolítico é um assunto que constantemente tem sido debatido em esferas sociais e políticas, pois, junto com elas, é possível perceber o mundo e as pautas essenciais longe dos velhos “vícios” conhecidos pela sociedade patriarcal e branca. Para Amanda Guterres Fulô, de 24 anos e mestranda em Direitos Humanos, Sociedade e Arte, a existência e resistência delas tornam-se um sinônimo de luta e esperança no Brasil, que ainda é um país desigual tanto em gênero como em raça. 

Um mundo mais democrático passa pela ocupação de cargos de decisão por mulheres negras, de construção institucional significativa na política brasileira, tendo em vista que somos sub representadas no congresso e demais casas legislativas. Além disso, ainda somos submetidas a extrema violência e subalternização,  somado ao extermínio corporal e de ideias, a exemplo de Marielle Franco, que nos representava no plano legislativo e foi brutalmente assassinada, nos deixando em um cenário de medo e revolta”, comenta.  

Nesse cenário político apontado por ela, apesar da parcela de mulheres negras representar 28% da população do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), elas são apenas 2% do Congresso Nacional e menos de 1% na Câmara dos Deputados. Tal ausência, segundo a cientista política Richelle Silva, dificulta a construção de políticas públicas voltadas para a sociedade de forma geral. 

Foto: Reprodução
O aumento de mulheres negras em cargos de decisão é uma perspectiva de esperança. Foto: Mulheres Negras Decidem/Reprodução.

Filha de Karla Guterres, professora negra do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (de acordo com os dados do IBGE, apenas 3% do corpo docente no país é formado por mulheres afrodescendentes), Amanda é natural de Roraima, porém reside no Rio de Janeiro atualmente. Para ela, o  Dia da Mulher Negra Latino-americano e Caribenha é uma forma de exaltação das histórias, mas também de reflexão da existência no mundo. Segundo ela, uma das realidades de ser imposta a viver na base da pirâmide social é esquecer que também somos livres para pensar e sermos felizes. 

“Nós mulheres negras seguimos na base de uma estrutura social racista, fruto da colonização, e estamos em articulação constante para escancarar essa realidade, ao mesmo tempo que temos que cuidar de nós mesmas e dos nossos”, define. 

Do outro lado do país, mas preparando as malas para morar em São Paulo nas próximas semanas, a comunicadora Luana Daltro vê o destaque da mulher negra como uma possibilidade de inovação e avanço nas pautas de educação, economia e direitos.  

“A sociedade ganha ao ter uma sociedade mais justa com mulheres negras vencendo. Angela Davis já nos disse que a revolução viria pela mulher preta, e essas mulheres sempre foram protagonistas das suas vivências, mas invisibilizadas pela história. Assim, o destaque às mulheres negras se torna uma reparação histórica, precisando atuar na estrutura da sociedade, na qual, hoje, ocupamos a base da pirâmide”, detalha. 

Imagem destacada: Tânia Rego/Agência Brasil | Edição: Ludmila Almeida

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