
Cria das periferias de Salvador, Bahia, o Pagode Baiano tem ganhado cada vez mais destaque na cena musical nacional. Assim como o funk e o axé já se consolidaram, agora é a vez dele e quem aposta nisso é a jornalista e pesquisadora do gênero Beatriz Almeida. A soteropolitana de 23 anos atualmente trabalha providenciando mais protagonismo feminino no pagodão, através da plataforma Pagode Por Elas.
Nascido literalmente dos becos, vielas e ladeiras da região metropolitana de Salvador, o Pagode Baiano vem da mesma matriz do Axé: o samba de roda e outros gêneros afrobrasileiros e afrodiásporicos. É um gênero que canta a vida que acontece nas periferias sem tanta preocupação com o pudor. Falar sobre violências simbólicas direcionadas à população negra e de periferia e do exercício da sexualidade nessas localidades é a especialidade da casa.

Sucesso entre os anos 80 a 2000
Com Gera Samba — que posteriormente se tornou o É O Tchan –, Harmonia do Samba, Parangolé, Psirico e Edcity, o Pagodão foi passando por muitas inovações até chegar aos nomes de maior relevância hoje. Entretanto, a caminhada desses artistas não tem sido fácil. Para Beatriz, “é um gênero que sempre foi estigmatizado, mas em contraponto, é a essência da Bahia. É um gênero que quando toca as pessoas dançam, as pessoas mexem, lembram das suas infâncias. Não tem um baiano que não tenha a influência do pagode na sua formação”, afirma Beatriz.

Em 2012, foi aprovado um projeto de lei que proíbe órgãos públicos de financiar eventos que contratem artistas que “desvalorizem, incentivem a violência ou exponham as mulheres à situação de constrangimento” em suas músicas em todo o estado.
A Lei Municipal nº 8.826/2012 e a Lei Estadual nº 12.573/2012 ficaram conhecidas como “Lei Antibaixaria”. Embora até hoje não seja regulamentada e posta em prática, essa legislação deixa explícita a dificuldade do gênero ser reconhecido enquanto cultura.
Mesmo assim, os artistas seguem trabalhando para quem gosta, mete dança e fortalece a cena e caminham rumo a um novo momento de projeção nacional. Nesse cenário, as mulheres cantoras têm reivindicado fortemente seu espaço e o Pagode Por Elas, iniciativa a qual Beatriz é co-criadora e, hoje, gerente de projetos, tem grande importância nisso. Em 2021, elas deram início à Nova Década do Pagodão Baiano “dessa vez feito por elas e com a nossa cara”, como diz o slogan.
Cantoras como Alanna Sarah, a Dama do Pagode; Aila Menezes, o primeiro grande nome feminino na cena; e Rai Ferreira, a rainha do pagofunk, tiveram suas histórias contadas pelo projeto – que iniciou como um trabalho de conclusão de curso de estudantes de jornalismo da faculdade Unijorge.
Hoje o projeto acompanha e impulsiona a carreira de mulheres tanto no Pagodão, como em outros gêneros. Também é do Pagode Por Elas a primeira pesquisa acadêmica (2019) que considerou as mulheres não só como backing vocals, dançarinas ou “piriguetes” – como são chamadas as mulheres que curtem o baile.
Acompanhe a cena
Foto destacada por Joyce Melo
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