
Realengo é o oitavo bairro mais populoso do Brasil e está na mesma região de Campo Grande e Bangu, locais que ocupam o primeiro e segundo lugar na lista de “10 bairros mais populosos do Brasil”, segundo os estudos da Geofusion. Somos um um mar de gente vivendo em uma área predominantemente cinza e sem uma política de planejamento urbano que reconheça os direitos dos periféricos. Essa carência se dá devido a um projeto de cidade pautado no interesse das grandes empresas e das negociatas políticos ao invés de no bem estar da população. Se não fossem os maciços do Mendanha e Pedra Branca, estaríamos em uma condição climática mais dramática ainda, fora nosso saneamento básico super precário, rios assoreados, ausência de fiscalização da atuação ilegal de construtoras e empreendedores imobiliários em nossas encostas.
Vale ressaltar que Realengo é um bairro central para o Rio e para o Brasil, apesar do pouco reconhecimento de sua memória e de seu patrimônio cultural e natural. Para quem é de fora, o bairro é reconhecido por histórias e música que relatam sua distância do “Centro carioca” e seu calor intenso. Já para quem é de dentro, Realengo é amor latente por sua efervescência e sua potência imensa, repleta de variáveis realenguenses, que são espalhadas da linha do trem ao Viaduto de Realengo, subindo até o alto da Nogueira de Sá.
Há 40 anos, a área onde atuava a antiga Fábrica de Cartuchos de Realengo está abandonada. Esse histórico de abandono reflete na calçada, que se transformou num depósito de lixo e entulho em diversos momentos das últimas décadas. Essa não é a cidade que queremos, né? Perante a não concretização da promessa do Parque de Realengo Verde – previsto para ser construído dentro da área da fábrica – os moradores, parceiros e coletivos da região passaram a se fortalecer através de ações de cuidado da área externa promovendo melhorias no espaço, ações de sustentabilidade e iniciativas culturais. Através da atuação em rede, a área, que chamamos de Parquinho Verde, vem sendo transformada e pensada como um espaço de resistência ao longo do último ano. E é uma forma de fortalecer a luta pela construção do 100% Parque de Realengo Verde, uma mobilização que precisa de apoio e visibilidade.
Foi em agosto de 2019, com apoio da Casa Fluminense, que o Ponto de Cultura Lata Doida, junto a diversos colaboradores, iniciou uma grande mobilização para recuperação da área que viria a ser o Parquinho. Nesse período foram providenciados arames e madeiras para a organização do espaço, iniciou-se a construção de um telhado verde e de uma composteira comunitária, foram plantadas quase cem mudas de árvores e retirados alguns caminhões de entulho. A área começou a se tornar um local de encontro, arborizado e ecológico, onde é possível realizar eventos com artistas e ativistas do bairro e da cidade. O nosso sonho é que essa área abandonada há décadas siga se transformando e se torne um espaço de lazer, arte, esporte, sustentabilidade e giro da economia local.
A pandemia e a entrega de cestas básicas através da iniciativa Rio Contra o Corona reuniu ideias e ideais a fim de garantir que a ocupação Parquinho Verde permaneça. Surgiu então o financiamento coletivo como uma estratégia de transformação social para a cidade, numa proposta de convidar apoiadores, ativistas e amigos espalhados pela metrópole a olhar para Realengo, esse bairro tão potente na Zona Oeste do Rio. Foi feita a correria de elaboração de proposta para o Fundo Bossa Nossa da Benfeitoria e o projeto “Festival Avante Parquinho Verde!” foi selecionado entre mais de 90 iniciativas. Uma vitória!
Entendemos que o Festival é um grito que daremos juntos. Um grito em forma de artes para todos que ainda não entenderam que as áreas públicas e verdes das nossas periferias não podem ser resumidas a shoppings, mercados e condomínios. A Zona Oeste não aceita mais isso e agora temos a oportunidade de, por meio de um festival cultural com viés de ativismo socioambiental, avançar nessa ideologia. Reunimos amigos e parceiros para oferecer diversas oficinas (recreativas e capacitativas) como recompensas para quem chegar junto no financiamento coletivo, necessário tanto para a revitalização do Parquinho Verde, quanto para a realização do Festival, que oferecerá shows, atividades lúdicas, poesia, entre outras ações culturais.
A ocupação Parquinho Verde e o Festival Avante Parquinho Verde! também estão alinhados com alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030. Esses objetivos visam uma cidade mais justa, inclusiva e desenvolvida a partir da preservação do meio ambiente, incidência territorial, promoção de arte e cultura, organização comunitária e desenvolvimento periférico.
As metas 1 e 2, de R$15.000,00 e R$20.000,00 foram batidas, mas ainda existe uma meta 3 no valor de R$25.00,00 para encerrar com chave de ouro essa história. Na verdade, não é um encerramento. É só o começo. Em janeiro de 2021, para celebrar e fortalecer essas redes, vamos realizar o “Festival Avante Parquinho Verde!” e mostrar pro Rio que juntos somos e podemos mais.
Por um Realengo e uma Zona Oeste mais verde, colabore na campanha que segue vigente até 23:59 do dia 10/12/2020 no www.benfeitoria.com/avanteparquinhoverde.
Texto adaptado pelos integrantes do coletivo Parquinho Verde Marcele Oliveira, Vitor Mihessen e Vandré Nascimento.
Imagem: Arquivo @parquinhoverde