Jair Krischke

Uma entrevista com Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH). 

De uma forma descontraída e no auge dos seus 81 anos, Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) e um dos personagens mais importantes no desenvolvimento da temática na América Latina, compara os seus mais de 40 anos dedicados às causas humanitárias com uma prova de atletismo, onde sempre estará preparado para a disputa e defesa das condições dignas de vida para qualquer ser humano. 

Natural de Porto Alegre, com a firmeza de quem enfrentou tempos de ditadura e esteve à frente de projetos que defenderam diversas vidas pelo continente, Jair destaca o principal violador dos Direitos Humanos na sociedade contemporânea: o Estado. 

“Eu costumo dizer que o grande violador dos Direitos Humanos nos países, e claro que o nosso está incluído nisso, é o Estado. O Estado brasileiro é o grande violador dos Direitos Humanos e, quando falo em Estado, falo sobre a União Federal, dos estados e dos municípios, pois são esferas que sonegam a saúde, a educação, a proteção aos menores e aos idosos. É um Estado que não protege os seus filhos”, explica. 

Da ausência à falta de amparo para cumprir os valores de um Estado Democrático estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, as pautas humanitárias no país convivem com um processo de não credibilidade na esfera pública e privada, gerando um retrocesso nas conquistas históricas das organizações e movimentos que prezam pelos Direitos Humanos.  

“O Estado, na sua ausência, permite que as milícias assumam aquilo que é papel dele. A existência das milícias é, sim, a prova definitiva da omissão e do não cumprimento das obrigações do Estado. Este é o panorama atual que vivemos. Gostaríamos muito de estar colocando ao povo, especialmente o brasileiro, as vitórias alcançadas, mas não temos vitórias. Nós temos recuos. E recuos graves”, destaca. 

Na perspectiva de quem acompanhou o progresso dos direitos trabalhistas no país, o presidente do MJDH lamenta o “abraço” das políticas públicas na ideologia neoliberal, que possibilitou o desmanche de uma série de benefícios e garantias adquiridas com o tempo e pelo empenho de sindicatos e movimentos.   

“Por exemplo, toda a alteração ocorrida na legislação trabalhista brasileira e previdenciária é um recuo que nos remete ao princípio do século passado, de todos os avanços da humanidade. E os avanços que a sociedade brasileira conseguiu estão hoje em uma perda constante”, comenta.  

De fato, as mudanças citadas por Jair contribuíram para o desenvolvimento de um cenário trabalhista precarizado no país e com os direitos dos trabalhadores brasileiros cada vez mais defasados ou à mercê de terceiros, como o empregador.  Além deste destaque, uma das grandes motivações para as mudanças nas leis trabalhistas foi a promessa de aumento no número de empregos. Porém, segundo os dados apresentados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), nesses três anos de mudança, foram gerados 268,5 mil postos de trabalho – a expectativa era de cerca de 6 milhões de empregos.  

A pandemia e a comprovação de abandono do Estado 

Ao comentar sobre as questões de saúde pública no Brasil, Jair Krischke é conciso. “A pandemia do coronavírus demonstrou como o Estado não está preparado para cumprir com suas obrigações em proteger a vida do cidadão brasileiro”, afirma. 

“O Estado assiste ao cidadão ou cidadã convivendo diariamente com uma tragédia. E vemos, na Presidência da República, alguém negacionista, que desconhece a ciência, e com essa postura favorece, sim, a morte de milhares e mais milhares de pessoas. São vidas que poderiam ter sido poupadas e não estão sendo… pela alienação de quem nos governa”, frisa.  

É nessa postura de não comprometimento com a população brasileira que é possível destacar a minimização dos Direitos Humanos pelos representantes atuais do poder público, como se o tópico fosse um assunto distante.  

“Se todos nós somos iguais de dignidade e direitos, por que no Brasil morre por ação do Estado mais negros? Temos que entender que Direitos Humanos está vinculado ao cotidiano, é uma questão coletiva, quando uma pessoa tem seus direitos violados, toda a humanidade foi violada”, finaliza. 

*Imagem destacada: Jair Krischke Facebook/Divulgação.

Bastidores do FP

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