O Grande Bom Jardim, periferia de Fortaleza (CE), é um dos territórios periféricos brasileiros representados no #MapaCoronaNasPeriferias e mobilizados para minorar os efeitos da pandemia. Essa região compreende 5 bairros: Siqueira, Canindezinho, Bom Jardim e Granjas Lisboa e Portugal, onde foi criada em 2003, a Rede DLIS, uma rede de lideranças locais que atua para reafirmar os direitos humanos como estratégia de construção de políticas públicas que possam incidir no território. 

Na capital cearense, pelo menos 16% da população vive em condições de moradia irregular, de acordo com dados do IBGE. É nessa parcela da população que identificamos os maiores indicadores da desigualdade, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). 

As diferenças entre os resultados do índice deixam evidente a precarização social que se impõe à população do Grande Bom Jardim. De acordo com o Plano Plurianual da Prefeitura de Fortaleza, três dos cinco bairros do Grande Bom Jardim vão continuar entre os 10 piores IDHs apresentados na capital até 2021. 

Canindezinho, Siqueira e Granja Lisboa registraram indicadores inferiores a 0,2, o que é considerado baixíssimo pela Organização das Nações Unidas, responsável por medir a qualidade de vida da população mundial. Enquanto bairros de classe média, como Meirelles, Aldeota e Dionísio Torres alcançam índice acima de 0,8, considerado alto desenvolvimento pela ONU.

Novo coronavírus atinge mais os pobres do que classe média

Esse cenário se apresenta de maneira ainda mais cruel quando analisamos a situação da Covid-19 neste território. Comparamos um único bairro localizado no centro de Fortaleza com os 5 bairros do Grande Bom Jardim. No último Boletim Epidemiológico Semanal, apresentado pela Prefeitura de Fortaleza no dia 4 de maio, o bairro Aldeota registrava 240 casos confirmados e 14 óbitos por covid-19, registrando taxa de letalidade do vírus de 5,83%.

Somados todos os cinco bairros do GBJ, foram registrados 224 casos confirmados de infectados pelo novo coronavírus. 29 pessoas morreram, registrando uma taxa de letalidade de 12,9%, mais que o dobro de Aldeota.

Rede DLIS e a solidariedade como resposta

Lançada no dia 28 de março, a campanha Adote uma Comunidade conta com uma Comissão Organizadora que está construindo coletivamente uma matriz de famílias prioritárias a partir da indicação pelas lideranças locais. Ao mesmo tempo, a Rede de Desenvolvimento Local Integrado Sustentável está acompanhando as iniciativas de distribuição das ações solidárias nos territórios para que as mesmas cheguem até mesmo nas comunidades mais desconhecidas. 

Até o dia 13 de abril, a campanha já havia distribuído 113 cestas básicas e igual número de kits de limpeza, chegando às seguintes comunidades: Marrocos, Nova Canudos, Santo Amaro, Pantanal, Irmã Dulce 2, Paz, Nova Canaã, Nova Esperança, Santa Paula Frassinet na Granja Lisboa, Jardim Jatobá e residencial Ana Facó, Tatumundé, Santa Cecília, São Vicente e Nova Esperança.

Rogério Costa, um dos organizadores da Rede DLIS, considera importante o pensamento coletivo para apoiar os moradores do Grande Bom Jardim no momento de agravamento da crise. “A gente criou a campanha ‘Adote uma comunidade’ para ajudar as famílias a atravessar esse momento difícil e para que as pessoas possam chegar junto e fazer a solidariedade chegar às famílias do Bom Jardim”, comenta ele. 

A participação das organizações locais nessa campanha, além de identificar famílias, é também servir de pontos de apoio direto para receber e distribuir doações. Entre as instituições integrantes da rede estão o Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza, que atua nas comunidades da ZEIS Bom Jardim e coletivos de juventudes, a Associação Espírita de Umbanda são Miguel, que atua na Granja Lisboa, a Associação dos Moradores do Bom Jardim, que atua na região do Santo Amaro, no Bom Jardim, o Espaço Geração Cidadã, que atua na Granja Portugal, e a Campanha Bom Jardim de Luta que se articula no Fórum de Cultura do Grande Bom Jardim e tem chegado a famílias no Bom Jardim e Granja Portugal.

A iniciativa da Rede DLIS é uma das 435 cadastradas no #MapaCoronaNasPeriferias. São centenas de campanhas espalhadas por todo o território nacional, formando uma rede de solidariedade periférica que busca incidir em cada um desses territórios para mitigar os efeitos da Covid-19. Encontre a ação mais perto de você e colabore também.

*Edição de Michel Silva / Foto de capa da Rede DLIS

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