Ações de forças de segurança atrasaram a chegada de eleitores a um segundo turno de poucas filas, poluição mínima e sem aglomerações nas zonas

Após quase 4 anos de um governo que testou a democracia em diversas formas e um primeiro turno tenso e com registros de violência política contra quem não apoia o atual governo, muitos esperavam um segundo turno complicado. Os mais pessimistas já falavam do medo de uma virada baseada na compra de votos.

De fato, o que aconteceu foi que tivemos um segundo turno atípico, vimos denúncias de operações da Polícia Rodoviária Federal e Polícias Militares pelo país, nas quais havia relatos de que policiais questionaram em quem os eleitores votariam, outras pessoas protestaram contra o impedimento da manifestação silenciosa da escolha política, com a destruição de bandeiras e adesivos do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A exemplo do áudio publicado pelo jornalista independente Leandro Demori, em que uma mulher não identificada relata situação vivida por seu filho, que se deslocava em transporte por aplicativo para uma região periférica do Rio de Janeiro – RJ, onde exerce seu voto, quando foi parado por policiais, confira:

A seguir, você acompanha alguns casos e breves relatos de como o segundo dia de votação das eleições de 2022 aconteceu em diferentes periferias brasileiras.

A votação em Vila Concórdia, região periférica ao leste de Goiânia – GO

Por Ludmila Almeida

A votação em Goiânia foi rápida, sem poluição das ruas e tumultos. Apesar disso, tivemos um eleitor que vestia camisa do candidato Lula e foi abordado por policiais militares assim que saiu da sessão de votação. 

Durante essa abordagem, segundo o jornal O Popular, os policiais pediram para o advogado Igor Escher retirar a camiseta do candidato, mas ele se recusou por estar em seu direito de manifestação silenciosa, em seguida os policiais retiraram o telefone da mão do advogado que estava gravando a ação. 

Também houve registro de ocorrências de eleitores que tiraram fotos enquanto estavam dentro da cabine de votação. A demora de ônibus coletivo é outro ponto que marca o dia. Por decreto, o transporte foi gratuito para que todas as pessoas pudessem se deslocar e chegar até suas sessões de votação sem um custo adicional, no entanto, o tempo de espera foi além do esperado, em média 2h, o que causou reclamações.

A surpreendentemente tranquila eleição na Baixada Fluminense

Por Renato Silva

Com mais de 30 anos de vivência na Baixada Fluminense, conhecida região sob forte domínio e influência do fundamentalismo religioso e da milícia, ninguém esperaria um dia de votação ameno. No entanto, o que se via nas ruas e escolas era um clima menos tenso e de pouca turbulência.

Ao sair pelo portão a primeira surpresa, um homem já idoso e conhecido pela embriaguez habitual passava de bicicleta, orgulhoso de sua enorme bandeira vermelha, com nome e número do agora presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Quando, ao ser provocado, gerou o seguinte diálogo:

– Tá apoiando ladrão, né Seu Luiz*, disse um vizinho
– Irmão, você apoia o seu [candidato] e eu apoio o meu. Aqui é Lula p****, esbravejou Seu Luiz*
*utilizamos pseudônimo para preservar a identidade do eleitor. 

Ali se dava o primeiro sinal de uma tranquilidade inesperada para uma eleição decisiva para o campo extremamente conservador e fundamentalista da Baixada Fluminense.

O que também chamou a atenção foi ver, chegando ao CIEP Municipalizado Monteiro Lobato, em Duque de Caxias – RJ, que não havia aglomerações e nem filas. Mas principalmente, não havia grande volume de poluição no chão, nem mesmo de cabos eleitorais coagindo eleitores indecisos, quase não havia qualquer agitação.

Cenário idêntico ao encontrado no Centro Educacional Líbano Brasileiro, esse no Bairro Wona, em Belford Roxo. Pouquíssima poluição, o mesmo sobre filas, aglomerações dentro ou fora do colégio. Quem conhece o local, lembra facilmente do chão repleto de papéis, a ponto de nem conseguir enxergar o chão abaixo dos santinhos.

Quilombolas denunciam empresa no Pará por tentativa de impedimento do voto

A Malungu, como é conhecida a Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Pará, uma das organizações integrantes da campanha #CompartilheInformação #CompartilheDemocracia, denunciou durante esse domingo (30) uma tentativa de impedimento do voto do Quilombo do Alto Acará, no município do Acará – PA. 

Segundo a organização relata em vídeo veiculado nas redes sociais, uma das estradas de acesso ao Quilombo do Alto Acará foi cortada ao meio pela empresa BBF – Bio Brasil Fuels, o que impedia a passagem dos quilombolas pelo ramal que a comunidade usa há muitos anos. Dessa forma, a grande questão foi fazer a comunidade chegar às urnas.

O segundo turno na Zona Oeste do Recife

Por Eduarda Nunes

No Recife, no trajeto de ônibus até as urnas, os bairros dão seu tom. Onde mora a classe média da zona norte da cidade, somente as bandeiras e toalhas se manifestaram, já nas periferias era festa com muita cerveja e caixa de som em alto volume repetindo jingles de campanha do candidato do Partido dos Trabalhadores. 

Diferente dos primeiros turnos, a pouca quantidade de lixo na rua era gritante, tanto que quase foi percebida. Mas em vez de santinhos no chão com marcas de pisadas, muito adesivo colado nas janelas dos coletivos. 

Seções sem filas, tudo muito favorável para um segundo turno de eleições tranquilo. Entretanto, durante todo o dia foram sendo relatados impedimentos que atrasaram a chegada de eleitores de Lula (PT) às urnas. A Polícia Rodoviária Federal e gestores locais fizeram sua parte em tentar sabotar o resultado das urnas, e a hashtag #DeixemONordesteVotar logo se popularizou nas redes sociais. 

Embora as tentativas, a esperança se manteve e logrou êxito. As comemorações dos que confiaram a Lula os próximos quatro anos no Palácio da Alvorada começaram cedo e, quando a apuração dos votos foi iniciada, só se intensificaram. 

Fogos de artifícios marcaram a virada dos votos do candidato petista nas urnas. Na vitória, choros, gritos e provocações com os eleitores de Bolsonaro marcaram o momento de quem optou por comemorar em casa. Cada periferia celebrou seu réveillon particular, com muitos fogos, bandeiras vermelhas hasteadas e cerveja. 

No centro do Recife parecia carnaval de novo. Milhares de pessoas foram ao Armazém do Campo e ao Marco Zero celebrar a vitória como se brincassem o Galo da Madrugada, o maior bloco de carnaval do mundo, ou estivessem subindo e descendo as ladeiras de Olinda. Assim como em outras capitais do Nordeste e do Brasil, celebrando coletivamente o início do retorno do cuidado com os povos brasileiros.

Esse conteúdo faz parte da campanha #CompartilheInformação #CompartilheDemocracia, mobilizada pelo Perifa Connection e pela Artigo 19, da qual o Favela em Pauta faz parte.

*Edição: Gabi Coelho | Imagem detacada: Ludmila Almeida

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