
As musicistas Lene Black, Sonia Ray, Érika Ribeiro e Nina Soldera, protagonizam a websérie goiana “Diaspóricas”.
A música brasileira é uma mulher negra. Diaspóricas é uma websérie documental sobre a Música Preta Brasileira que é feita pelas mãos, pelas bocas, pelos ouvidos e pelo sentir de mulheres que se encontram em Goiás. Mulheres cerradeiras, amefricanas, sonoras, pretas e centrais.
A websérie Diaspóricas é um programa de vídeos seriados, do gênero documentário, com cinco episódios, caminhando pelos subgêneros poético e participativo, que busca dar visibilidade a narrativas de resistência de mulheres negras musicistas vivendo em diáspora, que têm, na música, um projeto político-afirmativo pelo direito de existir.
Em Diaspóricas há uma abordagem interseccional que discute temáticas das relações étnico-raciais, das relações de gênero e das vivências LGBTQIA+ vinculadas ao mundo da arte, principalmente ao fazer artístico de musicistas negras atuando no cenário musical da cidade de Goiânia, estado de Goiás.
A série celebra a negritude, o ser mulher e a música brasileira, a partir da conexão em África. Celebra também a resistência diaspórica de mulheres negras que utilizam seus múltiplos fazeres musicais como tática de existência.
A websérie estreou a sua primeira temporada, com 5 episódios, protagonizados por 4 musicistas negras. Os 4 primeiros episódios têm duração entre 10 e 15 minutos e, cada um, tem uma única mulher diaspórica narrando suas lutas como mulher negra e como mulher lésbica – no caso do episódio 1 e 4 –, além do relato sobre as dificuldades e superações que encontram tanto na experienciação de ser negra, quanto na vivência de musicista.
O quinto e último episódio, que tem 25 minutos, se trata de um encontro das 4 artistas diaspóricas, que puderam dialogar sobre seus processos de atravessamentos afromusicais, sobre as dificuldades e superações comuns que vivenciam juntas, mesmo sem se conhecerem.
Diaspóricas são mulheres em atravessamentos afromusicais que se reconhecem mesmo não se conhecendo. Pela arte, pela negritude e pelo ser mulher, mulheres pretas e pardas se reconhecem como portadoras de tecnologias ancestrais para transgredir a sistemas de opressão.
O encontro culminou em uma performance musical por meio de um improviso de sonoridades, timbres e texturas sonoras, comprovando a perspectiva de que mulheres negras se conectam e encontram um comum umas com as outras, porque se reconhecem nas experiências sobre ser negra e sobre ser mulher.
Elas se encontram também por meio da ancestralidade e por meio da herança de uma atmosfera musical e cultural rica, herdada da conexão em África. Esse encontro foi um processo empírico de construção de uma narrativa coletiva negra e artística sobre resistência.
Transgressão ao racismo
A idealização de Diaspóricas é fruto da pesquisa de doutorado da Ana Clara Gomes Costa, que aborda micropolíticas do dia-a-dia e táticas cotidianas de resistência e transgressão de mulheres negras para superação do racismo, do sexismo e de outras formas de opressão oriundas do sistema capitalista. Ana Clara, que é doutoranda em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dirigiu e roteirizou a websérie.
“O propósito de Diaspóricas é sair do lócus de impossibilidades e violências outorgados à população negra, e fomentar narrativas para além do racismo, que não fixem nossos povos e comunidades nesse papel de passividade diante de violências e opressões estruturais. Há uma necessidade pulsante de evidenciar que a transgressão é o que marca a história do nosso povo que vive em diáspora e não a violência”, conta a diretora.
Há uma necessidade pulsante de difundir as formas de resistência que mulheres diaspóricas constroem para sobreviverem a uma sociedade racista, sexista, classista e lgbtqia+fóbica, no empenho de transformações sociais. Cada vez que essas são protagonistas e ocupam espaços soa como um levante a outras mulheres negras e LGBTQIA+, público-alvo que acompanha a série.
Coletivizar narrativas de resistência é um convite para que mais mulheres, nas suas pluralidades subjetivas, assumam protagonismos diversos. Porque quando mulheres diaspóricas criam mecanismos de transgressão, elas promovem transformações sociais aos seus povos e a suas comunidades, fato que incide fortemente na conquista de direitos a minorias sociais e na perda de privilégios das classes dominantes.
Toda a primeira temporada da websérie Diaspóricas está disponível gratuitamente no Canal Diaspóricas, no YouTube.
✓ Episódio 1 – Pra coroar | Érika Ribeiro
✓ Episódio 2 – Tecnologias ancestrais | com Nina Soldera
✓ Episódio 3 – Figuras de referência | com Sonia Ray
✓ Episódio 4 – Reconexões | com Lene Black
✓ Episódio 5 – Direito de voar | Encontro musical de Érika, Nina, Sonia e Lene
Fotos: Mayara Varalho
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